Outros membros |
Anaïs de Castro Benitez, Caroline Amorim Catheringer, Felipe Sperandio de Mattos, Giulia Ornellas Fuzaro Scaléa, JOSE DE OLIVEIRA PINTO, Luiza Pinheiro Andrade, Miriam Ferreira do Lago, Ytalo Galinari Henriques Schuartz |
Resumo |
Em países como Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia e Canadá, a caudectomia é prática comum em rebanhos leiteiros, sob alegação de melhorar a higiene do úbere e reduzir mastites. Contudo, estudos demonstraram não haver diferenças significativas nos índices de mastites ou na qualidade do leite, que possam ser atribuídas ao corte da cauda. Ademais, é crucial que quaisquer vantagens possíveis sejam ponderadas contra as desvantagens, incluindo a dor e o sofrimento animal. No Brasil, a caudectomia tem sido realizada em situações clínico-cirúrgicas, geralmente após trauma e ferimentos diversos não cicatrizados, onde há indicação terapêutica para remoção da cauda. O objetivo deste resumo é relatar uma caudectomia em vaca leiteira. Em 20 de maio de 2022, durante aula prática de clínica, na fazenda Bela Vista, no município de Presidente Bernardes – MG, foi atendida uma vaca holandesa de quatro anos, em lactação no sistema “compost-barn”. O proprietário relatou que ela tinha um ferimento na cauda há dois meses, que não cicatrizava e sangrava frequentemente. Ao exame físico foi observado ausência da extremidade caudal, e o coto, na altura do terço final, apresentava uma ferida crônica, com retração da pele e exposição de tecidos que sangravam periodicamente. O tratamento nesses casos é a caudectomia, extirpando toda a região comprometida e promovendo a cicatrização completa da ferida cirúrgica. A cirurgia foi feita sob anestesia epidural e local. Foi realizada tricotomia e antissepsia, seguida de garroteamento na base da cauda para reduzir o sangramento de artérias e veias no campo cirúrgico. Prosseguiu-se com uma incisão elíptica (meia lua), lateralmente ao nível da articulação vertebral anterior ao local da ferida, em região hígida, descomprometida pela lesão. Dissecou-se e promoveu-se a retração da pele no sentido proximal, obtendo assim sobra de pele para a sutura final. Em seguida, foi feita a desarticulação vertebral e extirpação do coto doente. A sutura de pele foi realizada com fio de nylon 0,40 em pontos isolados simples. Foi feita bandagem, e aplicação de antibacteriano e anti-inflamatório. Recomendou-se a manutenção da bandagem e retirada dos pontos aos 15 dias pós-cirúrgico. Após trinta dias havia completa cicatrização da ferida. Atualmente, o consumidor de lácteos exige da cadeia produtiva mais do que qualidade do produto, ele exige que o sistema de produção respeite o animal e lhe dê garantias de bem-estar durante toda sua vida. Os efeitos do corte da cauda na vaca leiteira, além de não ter comprovado benefício para a qualidade do produto, pode provocar, pelo menos em algum grau, dor e angústia no animal, além de efeitos adversos como neuromas que geram dor crônica no coto da cauda. Assim, até que os benefícios do corte de cauda sejam comprovados e possíveis problemas de bem-estar sejam descartados, a caudectomia em vacas deve ser legalmente recomendada somente quando houver indicação terapêutica, por médico veterinário. |