Resumo |
Fistula abomasal em bezerras é incomum mas, em bezerras lactentes, já foram relatadas pelo menos duas situações: a fístula abomaso-umbilical associada a onfaloflebites, onde a fístula se forma próxima ao anel umbilical e a fístula abomaso-umbilical associada a hérnias umbilicais, onde o saco herniário com parte do abomaso fistula na região da cicatriz umbilical. Em ambos os casos goteja substância leitosa, característica do conteúdo abomasal desta categoria de animais. O objetivo desse trabalho é relatar um caso de fistula abomasal em uma bezerra, pertencente a um rebanho localizado no município de Guaraciaba-MG. Foi atendida no hospital veterinário da UFV uma bezerra de 8 meses que, segundo o proprietário, já havia apresentado abcesso umbilical e que, apesar de ter sido tratado, não havia curado e, ultimamente, foi observado um orifício na pele, por onde gotejava um líquido, o que o levou a buscar atendimento veterinário. Ao exame clínico, observou-se, à inspeção e palpação, que a pele na região umbilical formava dobras espessas envolvendo uma área de 15cm de diâmetro em torno da cicatriz umbilical. O espaço subcutâneo continha dobras de tecido também espessado, com aderências entre si e com a parede abdominal. Lateralmente, afastado da cicatriz umbilical, havia um pequeno orifício na pele, em cujas bordas havia material semelhante a ingesta, identificado como fragmentos de milho, e ao centro drenava pequena quantidade de líquido. Suspeitou-se de fistula abomasal e para comprovação foi feita a sondagem do orifício, a qual revelou inicialmente uma pequena cavidade que se seguia em trajeto estreito e sinuoso, em direção ao anel umbilical, por onde drenou líquido cujo pH foi analisado imediatamente com fitas apropriadas e com pHmetro digital, que revelaram pH abaixo de 4 e 1,45 respectivamente. Também foi feito uma lâmina do material, que revelou grânulos de amido e flora bacteriana. Ao exame de ultrassom foram observadas estruturas características de abomaso, finalizando assim a confirmação de fistula abomaso-umbilical associado a hérnia. O tratamento cirúrgico foi indicado. Optou-se por anestesia geral inalatória. O local foi incisado, encontrando-se aderido e aprisionado um segmento do fundo do abomaso e omento maior. Foi feita secção do segmento abomasal e omento seguida de abomasorrafia. Por fim, realizou-se síntese da incisão abdominal, redução do espaço morto e dermorrafia. O pós cirúrgico constituiu de limpeza diária da ferida e administração de antibacterianos até a alta do animal, após 3 dias, sem complicações. As razões para ocorrer o processo fistuloso abomaso-umbilical não são bem esclarecidas, entretanto, neste caso, uma possibilidade é que poderia ter sido decorrente de uma hérnia umbilical perfurada por trauma ou mesmo pela tentativa de drenagem de um equivocado abcesso umbilical, que é um procedimento comum de ser realizado por pessoas práticas no campo, ou mesmo de forma iatrogênica, inadvertidamente por um técnico. |