Resumo |
O sagui-da-serra (Callithrix flaviceps) e o sagui-da-serra-escuro (Callithrix aurita) são espécies de primatas neotropicais endêmicos da Mata Atlântica, ameaçados de extinção. Diante da necessidade da conservação dessas espécies, o Plano de Ação Nacional para Conservação dos Primatas da Mata Atlântica e da Preguiça de Coleira do Instituto Chico Mendes da Biodiversidade (ICMBio) destaca o estabelecimento e aprimoramento de programas de manejo ex situ, a esterilização de híbridos invasores, dentre outras estratégias. Dessa forma, foi consolidado o Centro de Conservação dos Saguis-da-Serra da Universidade Federal de Viçosa (CCSS-UFV), que tem como principal objetivo conservar, reproduzir e reintroduzir C. aurita e C. flaviceps na natureza. Contudo, o bem-estar em cativeiro e sucesso reprodutivo depende, dentre outras variáveis, da higidez dos animais do plantel. Sabe-se que existe uma gama de espécies de helmintos que parasitam primatas não-humanos e que possuem potencial patogênico. Há inúmeros relatos na literatura sobre infecção por Platynosomum sp. em primatas do gênero Callithrix. Este trematódeo infecta o fígado, vesícula biliar e ductos biliares, tendo como principal via de transmissão a ingestão de lagartixas ou lagartos contendo as formas infectantes. Quando não identificada e tratada, a platinosomose pode levar o animal a sérias complicações advindas do comprometimento da função hepática e obstrução dos ductos biliares. Objetiva-se relatar casos de parasitismo por Platynosomum sp. em saguis da espécie C. aurita do CCSS-UFV e Callithix sp. capturados e esterilizados. Entre o dia 06 julho de 2021 e 05 de abril de 2022, foram coletadas amostras de fezes de 15 animais e enviadas ao Laboratório de Doenças Parasitárias e Parasitologia da UFV. As amostras foram submetidas ao Método de Hoffman, Pons e Janer (sedimentação espontânea) e analisadas no microscópio para busca de ovos de parasitos. Foram encontrados ovos compatíveis com Platynosomum sp. em 7 amostras, o que representa uma prevalência de 46,6% da infecção na população amostrada. Os indivíduos infectados apresentaram sinais clínicos relacionados à perda da qualidade e integridade dos pêlos do corpo e da cauda, emagrecimento progressivo e aumento significativo das enzimas hepáticas, como fosfatase alcalina, gama glutamil transferase e alanina aminotransferase. A severidade da doença está diretamente associada com a carga, o tempo e a resposta individual do animal parasitado. Portanto, os achados deste estudo ressaltam a importância da implementação dos exames coproparasitológicos periódicos para monitoramento da saúde dos primatas do gênero Callithrix mantidos em cativeiro, visto que por meio dessa ferramenta é possível diagnosticar a presença de possíveis patógenos que, quando não identificados precocemente, podem comprometer a higidez do plantel e consequentemente, o sucesso reprodutivo visando a conservação da espécie. |