Resumo |
O alumínio (Al) presente em solos ácidos é encontrado em sua forma trivalente, Al³+, que prejudica o crescimento e desenvolvimento de muitas plantas, por causar danos às raízes, impedindo a absorção de água e nutrientes. Plantas nativas dos solos ácidos do Cerrado apresentam mecanismos de resistência ao Al, que ainda não estão completamente esclarecidos. Elucidar tais mecanismos e identificar possíveis papéis do Al na planta é essencial para compreender as estratégias adaptativas e a evolução da flora do Cerrado. Este trabalho apresenta uma compilação de pesquisas realizadas de 2012 a 2021, sobre o acúmulo do Al em plantas coletadas no Cerrado da FLONA de Paraopeba/MG. Foram analisadas 53 espécies, de 21 famílias, e realizados: a identificação de espécies acumuladoras de Al, através de quantificação química do elemento; o levantamento de metodologias para histolocalização do Al; a localização dos sítios de acúmulo do metal, através de testes histoquímicos; análise nutricional e de parâmetros fotossintéticos de espécies acumuladoras; e estudo dos solos da FLONA. A quantificação química indicou 38 espécies acumuladoras e 15 não acumuladoras. O acúmulo de Al é comum nos estratos arbóreo, subarbustivo e herbáceo da vegetação do Cerrado. Os principais sítios de acúmulo do Al são as paredes das células da epiderme, parênquima clorofiliano, colênquima; floema; tricomas; cloroplastos e núcleos. A complexação de Al com compostos fenólicos foi observada, mas parece não ser uma estratégia padrão de detoxificação interna. Dentre as técnicas para histolocalização do Al, o reagente Chrome azurol S se mostrou mais efetivo. A análise através de microscopia confocal e de raio-X, em microscopia eletronica de varredura, auxilia na compreensão dos resultados obtidos na histoquímica e devem ser utilizadas quando possível. A presença do Al no solo não altera a absorção de nutrientes essenciais e parece atenuar a toxidez provocada por Mn e Fe. A complexação do Al com Si e Ca é uma estratégia presente entre as plantas de Cerrado e pode ser um mecanismo de detoxificação da planta. Não há diferença significativa da concentração do Al na planta em relação a sua disponibilidade entre diferentes solos da FLONA de Paraopeba. Alterações morfofisiológicas em plantas nativas de Cerrado podem estar associadas com outros fatores como, por exemplo, características físico-químicas do solo, luz e disponibilidade de matéria orgânica. O Al não altera a fotossíntese nas espécies acumuladoras, mesmo sendo evidenciada a presença do metal nos cloroplastos. O metal parece ser essencial para Borreria latifolia, pois, em sua ausência, a espécie tem o crescimento e desenvolvimento interrompido, sendo o quadro revertido com a adição deste elemento, no meio de cultivo. Os dados obtidos sugerem que o Al não é um fator limitante para a sobrevivência de plantas neste bioma, podendo ser um elemento benéfico para espécies nativas do Cerrado e até mesmo essencial. |