Resumo |
A Revolução Cubana (1959-) é de fundamental importância para a História e política latino-americana da segunda metade do século XX, tendo se delineado como um marco do período e consolidado uma política de cunho socialista que perdurou por décadas. Assim sendo, dentre as muitas possibilidades para se estudar tal revolução e seus impactos, esse trabalho parte da necessidade de problematizar a experiência guerrilheira cubana e a exportação de seu modelo, especialmente no que tange a discussão em torno da questão ética dentro da própria insurgência armada. Os objetivos, portanto, caminham na direção de entender e investigar a existência de um código de conduta moral dentro do movimento, buscando compreender como as necessidades táticas da guerrilha se amarram em torno das responsabilidades morais de seus agentes, discutindo, também, como se delineia um forte senso de conduta com certos princípios éticos em um contexto consideravelmente violento. Além disso, objetivamos relacionar a discussão ao seu contexto mais amplo, relacionando-a com as discussões em torno da moral nos meios de esquerda durante o período em questão. Dessa forma, pensando a discussão metodológica, partimos da fonte primária “A Guerra de Guerrilhas”, livro de Che Guevara, publicado originalmente em 1961 - se trata de um manual de guerrilha rural, baseado na experiência cubana, para instauração de focos de insurreição na América Latina e no mundo - o mesmo passa por todos pontos relevantes de natureza prática e teórica para a sobrevivência e avanço político em tais condições. Buscamos averiguar a colocação de discussões de natureza moral em tal narrativa, entrecruzando com narrativas complementares do período, relacionadas ao campo da ética e guerrilha, moral comunista e guerrilha na América Latina, passando por autores como Lowy, Ayerbe, Lênin, Ho Chi Mihn, Marx, Moniz Bandeira. Dessa forma, pudemos observar que existiu sim um forte senso ético dentro do movimento de guerrilha encabeçado por Guevara, sendo que a questão moral se constitui como um dos pilares do mesmo e se relacionava com valores como força, abnegação, coletividade, defesa do povo. Notamos que o assunto não é tratado em capítulos a parte, antes perpassa praticamente todos os assuntos do livro, sendo que, além de sua faceta idealista, também se relacionava com a necessidade de conquistar o apoio e adesão popular. Ademais, foi possível observar uma correlação entre a ideia de moral presente na guerrilha e no homem novo (outro conceito de Guevara, que se fundamentava na necessidade de desenvolvimento de uma nova ética para o nome regime cubano após a revolução, o socialismo). Concluímos, portanto que é essencial compreender as nuances da luta armada em Cuba para um melhor entendimento dos movimentos guerrilheiros como um todo na América Latina, tendo em vista que “A Guerra de Guerrilhas’’ se constituiu como dos principais aportes dos mesmos. |