Resumo |
A mucocele da vesícula biliar é uma doença de etiologia desconhecida e com graves implicações hepatobiliares, podendo levar a obstrução e ruptura da parede da vesícula biliar. A mucocele pode estar relacionada à vários fatores que atuam na produção de mucina, proteção epitelial e desordens de motilidade da vesícula biliar. Predisposição racial e alterações endócrinas também contribuem para o seu desenvolvimento. Observa-se ao ultrassom a distensão do lúmen vesical pelo grande acúmulo de material ecogênico imóvel, formando estrias que se estendem do centro às paredes internas da vesícula, o chamado padrão estrelado. O objetivo deste trabalho é relatar um caso de mucocele com imagens ultrassonográficas diferentes do descrito padrão estrelado encontrado na literatura. Um cão da raça Yorkshire Terrier, macho, 6 anos de idade, apresentava algia em palpação de regiões epigástrica e mesogástrica. Já havia sido diagnosticado com mucocele da vesícula biliar cerca de um ano antes. Em exames laboratoriais foi constatado leucocitose, anisocitose, policromatofilia e microcitose moderadas, discreto aumento de sódio e redução de potássio, e aumento de TGO (133), GGT (19) e fosfatase alcalina (273). Ao exame ultrassonográfico observou-se distensão de vesícula biliar, importante espessamento de parede (1,07 cm), paredes hipoecogênicas com linhas hiperecogênicas concêntricas e com a interface da camada mucosa e do lumen mal definida. O conteúdo apresentava-se hiperecogênico heterogêneo imóvel formando discreta sombra acústica posterior, não sendo possível visualizar estrias de aderência do conteúdo em parede. Nota-se também que apesar da distensão vesical, o lúmen apresentava-se reduzido devido ao acentuado espessamento de parede. Não foram observadas alterações ultrassonográficas hepáticas ou em vias biliares. O paciente apresentou desconforto durante a avaliação de vesícula biliar. O paciente foi encaminhado para cirurgia onde foi observado ponto de ruptura de vesícula biliar com aderência de parede ao redor. Em decorrência de alterações hemodinâmicas pós cirúrgicas, o paciente veio a óbito algumas horas após o procedimento. Os sinais clínicos apresentados pelo paciente eram brandos e não foi possível determinar o fator predisponente que pode ter levado a esta condição. As alterações ultrassonográficas, apesar de não evidenciarem um padrão estrelado, foram condizentes com mucocele de vesícula biliar pela presença de conteúdo ecogênico imóvel além de distensão vesical e espessamento de parede. As alterações atípicas podem estar relacionadas com a cronicidade da doença e ruptura de parede. Em conclusão, relata-se um caso incomum de mucocele da vesícula biliar, com alterações ultrassonográficas fora do encontrado na literatura, poucos sinais clínicos, porém, com graves complicações incluindo ruptura de parede. |