Resumo |
Introdução. A Astrobiologia constitui uma área da ciência que possui como parte do seu escopo o estudo dos organismos extremófilos. Esses seres vivos possuem adaptações metabólicas necessárias à obtenção de energia, tornando-os aptos a ocuparem habitats tradicionalmente inóspitos à vida. Levanta-se, então, o questionamento sobre a existência, nesses organismos, de mecanismos bioquímicos que possam ser úteis aos estudos dirigidos à terapêutica antimicrobiana. Objetivo. Revisar a literatura acerca dos eventuais impactos da biologia dos extremófilos na terapia antimicrobiana. Métodos. Empreendeu-se pesquisa bibliográfica com estratégia de busca definida, com textos publicados até 30/06/2022, a partir dos descritores disponíveis no DeCS [decs.bvs.br] e da consulta às bases ScienceDirect (SD) [www.sciencedirect.com] e PubMED (PM) [pubmed.ncbi.nlm.nih.gov]: (1) “Anti-Bacterial Agents”; (2) “Drug Resistance, Microbial”; (3) “Extremophiles”; e (4) “Extreme Environments”. Os descritores foram combinados em quatro estratégias: Primeira - (1) + (3) = SD: 78 citações, PM: 51 citações; Segunda - (1) + (4): SD: 142 citações, PM: 42 citações; Terceira - (2) + (3): SD: 76 citações, PM: 16 citações; Quarta - (2) + (4): SD: 1 citação, PM: 3 citações. Resultados. Identificaram-se 409 citações, cujos títulos e resumos foram lidos; selecionaram-se, ato contínuo, sete artigos, escolhidos com vistas à abordagem do objetivo supramencionado (Environ Microbiol Rep 2022, 14: 385-90; Microbial Extremozymes, 2022, p. 89-109; Microb Pathog 2020, 143: 104140; New and Future Developments in Microbial Biotechnology and Bioengineering Microbial Biomolecules, 2020, pp. 247-270; Extremophiles 2012, 16: 697-713; Curr Opin Biotechnol 2002, 13:253-61; Extremophiles 2000, 4: 77-82). Os resultados iniciais da revisão bibliográfica apontam para um conjunto notável de microrganismos que desenvolveram estratégias para sobrevivência em ambientes extremos. Duas frentes principais de pesquisa podem ser divisadas: (i) a identificação de organismos dotados de mecanismos de resistência aos antimicrobianos, inclusive com a proposta de caracterização de “extremófilos resistentes a antibióticos” (antibiotic-resistant extremophiles – ARE); e (ii) a possibilidade de desenvolvimento de novos fármacos a partir dos mecanismos moleculares de sobrevivência, pois tais organismos são potenciais fontes de produtos inovadores em biotecnologia com possível aplicabilidade na indústria farmacêutica. Conclusões. O presente estudo destaca possíveis interseções entre a biologia dos extremófilos e a terapia antimicrobiana. A continuidade do levantamento bibliográfico poderá contribuir para o entendimento das aplicações biotecnológicas de moléculas produzidas por tais seres vivos – com destaque para as arqueas (arqueobactérias), as bactérias e os fungos –, cujos impactos poderão ser decisivos à compreensão dos mecanismos de resistência microbiana e ao desenvolvimento/reposicionamento de fármacos anti-infecciosos. |