Resumo |
Os estudos das cidades no contexto da sociedade moderna perpassam pelas análises do turismo, que se apresenta como uma das principais atividades definidoras e transformadoras dos espaços e da identidade das regiões afetadas. A partir do alcance global de estratégias de gestão da atividade turística, pequenas cidades que possuem a atividade como base econômica passaram por um processo de homogeneização e universalização para se adequar ao ideal internacional e impulsionar o mercado. O planejamento baseado em estratégias de branding e marketing demarcam uma nova governança que modifica a estrutura das cidades, e dissemina uma visão mercadológica na administração pública e privada do turismo. A busca pela padronização das cidades turísticas desperta problemáticas relacionadas à vivência dos citadinos e a ocupação dos espaços, visto que a busca pela adequação ao mercado mundial pode levar à descaracterização do patrimônio, a negligência com a população e um apagamento identitário. Esta pesquisa busca compreender os desdobramentos espaciais e identitários em Paraty, cidade localizada no litoral sul do Rio de Janeiro, que tem o turismo como principal atividade econômica. O trabalho objetiva abarcar as dialéticas e a produção de sentidos precedidos das ações da iniciativa pública e privada e da assimilação dos residentes e visitantes. Para a realização dessa pesquisa, foi utilizado o método de pesquisa qualitativa, tendo como principal recurso à entrevista com os moradores, turistas e representantes da administração pública e privada. A escolha dos entrevistados foi realizada a partir da busca em grupos e comunidades nas redes sociais e após, foi realizada uma amostragem por bola de neve. Até agora foram realizadas 10 entrevistas no total. Em conjunto as entrevistas, foram utilizadas também à análise documental e a análise de conteúdo. Os resultados parciais da pesquisa apontam que o turismo é bem recebido pelos moradores que aprovam o fluxo de pessoas na cidade, por contribui para renda e oferta de empregos. A ausência de grandes indústrias e empresas na região leva a cidade a ser completamente dependente do turismo, passando por dificuldades durante os períodos de baixa ou épocas atípicas, como o período pandêmico. No entanto, a partir das entrevistas com os citadinos, nota-se uma grande insatisfação quanto a gestão pública da cidade. É apontado que a grande lotação nas épocas de alto turismo, junto às necessidades da população não são sanadas pela administração pública e privada, levando a cidade a uma situação em que a saúde pública e o saneamento básico são apontados como as principais deficiências. Além disso, o mercado turístico da cidade resulta num aumento dos preços em todos os setores comerciais, promovendo uma ausência dos residentes em grandes eventos e o afastamento do centro histórico. Os preços elevados, em conjunto com as negligências de cuidado e manutenção do patrimônio resultam numa sensação de não pertencimento da população local. |