Resumo |
O Brasil é um importante país exportador de carne bovina, demandando a atenção para patógenos que podem ser veiculados pelo seu consumo. O Cysticercus bovis é um desses patógenos e constitui a fase larval do ciclo da Taenia saginata, que contribui para a manutenção do complexo teníase-cisticercose bovina, causando grandes prejuízos econômicos à cadeia da carne anualmente. O diagnóstico da cisticercose bovina se baseia principalmente na avaliação macroscópica durante a inspeção post-mortem em abatedouros-frigoríficos e a condenação ou aproveitamento condicional das carcaças ocorre de acordo com os parâmetros da legislação vigente. Este método possui baixa sensibilidade e resulta numa subnotificação da incidência da cisticercose. Para solucionar este problema, testes sorológicos vêm sendo desenvolvidos com o propósito de detectar bovinos infectados pelo parasito antes mesmo do seu envio ao abate; o Dot-ELISA é um deles. O antígeno usado é preparado a partir de cisticercos de Taenia crassiceps que, apesar de ser de espécie diferente da Taenia saginata, possui perfil antigênico total similar e pode ser substituído por sua facilidade de multiplicação intraperitoneal em camundongos de laboratório. Porém, este antígeno em sua forma bruta mostra-se inespecífico no Dot-ELISA, necessitando um preparo cuidadoso do extrato proteico para ser aplicado. Tendo em vista a natureza deste extrato obtido pela inoculação intraperitoneal em camundongos, rico em lipoproteínas, o objetivo deste trabalho foi verificar a eficácia do processo de delipidação do antígeno de cisticerco de Taenia crassiceps por meio da adição de n-butanol para utilização no Dot-ELISA para diagnóstico da cisticercose bovina. Foram conduzidas sucessivas infecções experimentais de camundongos para manutenção do antígeno em laboratório. Os cisticercos obtidos, exceto os calcificados, foram desidratados por liofilização, triturados em cadinho de porcelana, pesados e adicionados de salina 0,15M até obter a proporção de 6,5 a 10% de soluto, a solução foi homogeneizada em homogeneizador de tecidos tipo Potter em banho de gelo e, por fim, centrifugado em microtubos à 15.000 rpm, 4°C, por 30 minutos. Ao sobrenadante produzido foi adicionado inibidor de proteases Fenilmetilsulfonilflúor (PMSF), a uma concentração de 0,25M, em proporção de 10 µL/mL e também n-butanol na concentração 1:1. O mesmo processo de delipidação foi testado em uma amostra de antígeno fresco, ou seja, em cisticercos suspensos em salina. O processo de delipidação por meio da adição de n-butanol do antígeno liofilizado e do fresco mostraram-se eficazes para garantir sua viabilidade na realização do Dot-ELISA, revelando a coloração característica de reação antígeno-anticorpo somente nos poços incubados com soro bovino com cisticercose. A partir desses resultados, estudos de reprodutibilidade serão necessários para a validação deste método de obtenção do antígeno de Taenia crassiceps e sua aplicabilidade no Dot-ELISA. |