Resumo |
Os impactos antrópicos são responsáveis por grande parte da perda da biodiversidade e das alterações nos ecossistemas terrestres. O maior desastre sócio-ambiental do Brasil, o rompimento da barragem da SAMARCO/BHP Billiton/Vale em Mariana, MG, em 5 de novembro de 2015, liberou 62 milhões de toneladas de rejeito de minério de ferro na bacia do rio Doce, destruindo grande parte da biota aquática e ripária, recursos naturais, além de afetar diretamente populações locais. A biota ripária animal é composta por artrópodes, que são sensíveis a impactos e alterações ambientais e podem responder a distúrbios reduzindo sua diversidade local e sua abundância. Os Orthoptera (gafanhotos, grilos, esperanças e paquinhas) estão presentes em praticamente todos os ecossistemas terrestres e são indicadores de degradação, regeneração ambiental e qualidade de habitat. Aqui visamos avaliar se o desastre da SAMARCO alterou a abundância de Orthoptera nas matas ciliares da bacia do rio Doce. Para isso, selecionamos cinco regiões na bacia do rio Doce e em cada região duas áreas de coleta, uma área referência e outra impactada pela passagem do rejeito. Em cada área fizemos quatro transectos de 120 m, perpendiculares ao curso do rio, distantes 50 m um do outro, a partir de 1 m da margem do corpo d’água (n=40). Cada transecto teve cinco conjuntos (n. obs. = 200), distantes 30 m entre si, de três armadilhas enterradas (pitfall) a 2 m de distância uma da outra, contendo 500 ml de etanol como solução matadora e conservadora. As armadilhas foram mantidas no campo por 48 horas, os animais foram triados e contabilizados. Para avaliar se houve diferença na abundância de Orthoptera entre as áreas, ajustamos modelos lineares generalizados mistos (GLMMs), análogos a ANCOVAs, incluindo a estrutura hierárquica da amostragem como interceptos aleatórios. Incluímos profundidade da serapilheira como covariável explicativa, além da categoria impactado ou referência como fator de dois níveis. Coletamos 2814 indivíduos, sendo 1616 nas áreas impactadas e 1198 nas áreas de referência. A abundância média de Orthoptera foi maior nas áreas impactadas (χ2=9.2209 p=0.002393), e não houve efeito da profundidade da serapilheira (p=0.13). Nossos resultados mostram como áreas impactadas por desastres ambientais podem favorecer determinados organismos. No entanto, temos que ser cautelosos na interpretação de “abundância de Orthoptera”, pois esta variável oculta como a diversidade a composição de espécies respondem ao impacto. Esperamos encontrar menor diversidade e maior dominância nas áreas impactadas, o que só poderemos avaliar após concluir a identificação do material. As espécies de Orthoptera que foram favorecidas pelo impacto podem ser generalistas, favorecidas em habitats degradados. Nossos resultados mostram que há diferenças, possivelmente persistentes desde o desastre, ocorrido há seis anos, refletidas na abundância de Orthoptera nas matas ciliares da bacia do rio Doce. |