Resumo |
Em Viçosa, município localizado no domínio morfoclimático dos mares de morros, situada na mesorregião da Zona da Mata de Minas Gerais, a expansão urbana teve impulso a partir dos anos 1970 em decorrência da federalização da Universidade Rural do Estado de Minas Gerais (UREMG). Com o rápido crescimento populacional, sem a adoção de políticas habitacionais, foram produzidos pelo setor imobiliário, para atender as camadas de baixa e média renda, loteamentos e bairros em diferentes zonas da cidade nas décadas subsequentes. O bairro de Santa Clara teve seu primeiro momento ocupação nesse contexto de expansão. Situado próximo ao centro de Viçosa, tal bairro nasceu para atender a demanda das classes médias. Dotado de infraestrutura e serviços, a ocupação inicial de Santa Clara ocorreu na parte plana. No entanto, a proximidade com o centro e a falta de recursos para a compra de imóveis nas áreas mais planas, impulsionou a ocupação das áreas mais declivosas do bairro, que foram loteadas com menor ou quase nenhuma infraestrutura. Esse processo materializou no interior do próprio bairro, as contradições do processo de produção do espaço urbano. A presente pesquisa busca compreender as variadas nuances do processo de produção da periferia, a partir da investigação do bairro de Santa Clara. Inclui no arcabouço teórico questões de gênero e raça para se debruçar sobre o conceito de periferia. Tendo a periferia como lócus central, resgata a história e memória do bairro a partir da perspectiva das moradoras, pretendendo refletir as seguintes questões: a) as diferentes conformações espaciais da cidade e do bairro, b) como se estabelecem as relações sociais; c) as formas de uso e ocupação; d) o papel da mulher na periferia. No que concerne à metodologia, o primeiro momento elaboramos um estado da arte para mapear os estudos realizados sobre a temática da pesquisa em trabalhos acadêmicas e em revistas especializadas. Realizamos trabalhos de campo para o reconhecimento espacial do bairro; produzimos as entrevistas, entrevistamos moradoras do bairro; elaboramos mapas e visitamos o Cartório de Registro de Imóveis de Viçosa. O que se percebe até o momento é que historicamente as elites políticas de Viçosa promovem o exílio periferia; questão que se expressa na precariedade de acesso aos serviços públicos, como saúde, educação e transporte. Tal processo retira dos moradores a possibilidade de usufruir dos espaços da cidade e de acessar seus diretos urbanos. O espaço urbano é continuamente construído em decorrência da ação dos diversos atores que nele vivem. Essa multiescalaridade de poder econômico, social e político costuma atingir os mais pobres com o nome de exclusão, quando na verdade o que se tem é um tipo de inclusão perversa. A importância de valorizar a história e memória das moradoras do bairro tem como objetivo assinalar as diversas formas de protagonismo assumidas pela comunidade local na luta pelo direito à cidade. |