Resumo |
Neste artigo, busco observar características culturais associadas à estética negra e como elas revelam discursos voltados ao cabelo crespo e cacheado. Para isso, escolhi como corpus de análise dois vídeos da plataforma Youtube. O primeiro é referente a uma palestra das empreendedoras Zica e Leila, responsáveis por conceber a empresa Beleza Natural - salão especializado em cabelos cacheados e crespos que conquistou grande sucesso pelo país, principalmente nas regiões de elevada população negra. O segundo vídeo apresenta jovens negros influencers e embaixadores da empresa Salon Line, que relatam a importância da representatividade dentro e fora da mídia, pois ela é um dos principais motores na construção da identidade, imagem e autoestima do povo negro. Com este material, objetiva-se identificar discursos reveladores do racismo presente em ambientes voltados à estética, sobretudo por meio da reprodução do padrão estético vigente na sociedade, considerando a ascensão do poder e da representatividade ao povo preto. A proposta desta investigação se insere no contexto da disciplina Comunicação e Discurso, na qual somos instigados a discutir a representação de determinadas identidades na mídia. Por meio da aplicação do referencial teórico-analítico da Teoria Semiolinguistica, busco responder à seguinte questão: De que forma o discurso das fundadoras do Instituto Beleza Natural contribui para a representação negativa do fenótipo negro, ainda que a proposta seja beneficiar este público-alvo? Para compor o aporte teórico, exploro conceitos tais como: imaginários sociodiscursivos; representação; contrato de comunicação; ato de linguagem e estratégias discursivas. Identifica-se a necessidade de aprofundamento no conceito de “contrato de comunicação”, uma vez que a partir dele se faz possível estabelecer o ato de linguagem partindo do pressuposto de que as práticas sociolinguageiras se encontram e estão permeadas por espaços de manobras e restrições advindas das circunstâncias do discurso. Com base nos conceitos de representação e representatividade, foi possível perceber que o Instituto Beleza Natural representa (mas não é representativo) pessoas negras que ainda têm uma imagem distorcida de seu corpo, carentes de ressignificar as experiências de opressão de maneira interseccional. Zica e Leila, nos papéis de sujeitos comunicantes legitimados pelo seu público-alvo, fomentam a ascensão social e amorosa pautada em uma reprodução de padrões hegemônicos. Embora pareça um avanço na proposição de amor próprio a partir da recusa ao alisamento completo dos cabelos, apresenta um produto químico que exerce a mesma função, mas com a potência reduzida, para que, assim, os cachos ainda possam aparecer. O que, para cabeleireiros de salões étnicos (o que se conclui não ser o caso do BN) e a população negra que está buscando fortalecer sua identidade étnico-racial (caso dos embaixadores da Salon Line), é perpetuar, por outra face, a agressão a um corpo político. |