Resumo |
Introdução: A COVID-19 pode se manifestar de forma variável, desde uma infecção assintomática até casos graves que necessitam de suporte hospitalar. A rápida distribuição mundial e o aumento vertiginoso dos casos culminaram na declaração de pandemia em março de 2020. Desde então, vários estudos vêm sendo conduzidos para avaliar o seu impacto na saúde populacional a longo prazo, principalmente buscando analisar fatores preditores da persistência de sintomas após a fase aguda da doença, conhecida como síndrome pós-COVID. Objetivos: Analisar a associação entre a presença de comorbidades e o estado funcional pós-COVID-19. Metodologia: estudo longitudinal, do tipo coorte, realizado com indivíduos adultos (≥18 anos) sobreviventes à hospitalização por COVID-19, em Viçosa- MG, entre abril e agosto de 2021. Foram excluídos aqueles com tempo de internação inferior a 24h, gestantes e indivíduos mentalmente incapazes ou com dificuldades auditivas. Os dados foram coletados mediante aplicação de um questionário multidimensional semiestruturado, por meio de ligações telefônicas previamente agendadas. Para a análise do estado funcional, utilizou-se a escala PCFS (Post-Covid-19 Functional Status Scale), ferramenta validada que permite categorizar o grau de limitação funcional para as atividades de vida diária (AVD) em “ausente, discreto ou leve” (graus 0 a 2) e “moderado a grave” (graus 3 e 4). Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFV (Parecer nº 5.162.842). As análises estatísticas foram realizadas no SPSS, v. 21.0, adotando-se nível de significância de 5%, e as associações foram testadas pelo teste exato de Fisher. Resultados: Participaram do estudo 38 indivíduos, dos quais 73,7% (n=28) eram do sexo masculino, com idade entre 21 e 84 anos (47,8 ± 15,9 anos). A presença de alguma comorbidade foi relatada por 78,9% da amostra, sendo as mais frequentes o transtorno de humor ou de ansiedade (39,5%), hipertensão arterial (34,2%), hipercolesterolemia (31,6%), doença pulmonar (21,1%), diabetes (15,8%) e doença cardíaca (15,8%). A limitação funcional moderada a grave foi observada em 31,6% dos participantes, e foi significativamente mais frequente entre aqueles com alguma comorbidade (40,0% vs. 0,0%; p=0,033). Quanto às comorbidades específicas, associações positivas com a limitação funcional moderada a grave foram encontradas para hipertensão arterial (61,5% vs. 16,0%; p=0,009) e diabetes mellitus (83,3% vs. 21,9%; p=0,008). Conclusão: Os resultados deste estudo demonstram que a presença de comorbidades se associa ao acometimento do estado funcional no período pós-COVID, levando a limitações nas AVD, com destaque à hipertensão arterial e diabetes mellitus. Além disso, reforçam a importância da elaboração de estratégias de monitoramento e cuidado voltadas aos indivíduos com comorbidades acometidos pela COVID-19, uma vez que são mais suscetíveis à persistência de sintomas após a fase aguda da doença. |