Resumo |
A pesquisa etnofarmacológica é uma importante ferramenta para o resgate das informações sobre o uso terapêutico das plantas medicinais em determinada população, de forma a perpetuar esse conhecimento para as futuras gerações. Sabe-se, também, que, historicamente, diferentes fármacos foram descobertos a partir de plantas usadas pela medicina popular. Em áreas de grande diversidade biológica, como em unidades de conservação (U.C), o estudo etnofarmacológico com comunidades que habitam no seu entorno, configura também uma estratégia de conservação, buscando o seu manejo sustentável. No Brasil, dois importantes biomas, considerados internacionalmente como “hotsposts”, são a Mata Atlântica e o Cerrado. O Parque Estadual da Serra Negra (PESN), localizado no município de Itamarandiba, Minas Gerais, é caracterizado por ser uma região de transição dos biomas Mata Atlântica e Cerrado. O objetivo do presente trabalho foi realizar o estudo etnofarmacológico com comunidades do entorno do PESN para o levantamento das plantas medicinais usadas localmente. No período de setembro de 2021 a abril de 2022 foram realizadas entrevistas semiestruturadas, com sete moradores do entorno do PESN, selecionados através do método bola de neve. Termo de consentimento para as entrevistas foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos. Para a coleta de plantas dentro do PESN foi obtido autorização do Instituto Estadual de Florestas (IEF-MG). As informações levantadas foram sistematicamente organizadas e avaliadas. O grupo de conhecedores foi composto por seis homens e uma mulher, com idades entre 48 a 73 anos, dentre estes lavradores, empresários/artesãos e auxiliar de produção. As plantas mencionadas durante as entrevistas foram coletadas, fotografadas, herborizadas e posteriormente incluídas no Herbário da Embrapa – Cenargen, Brasília. As coordenadas das coletas foram registradas por GPSMAP 64s. Foram identificadas, até o momento, 38 espécies vegetais medicinais. Dentre estas, 39% são consideradas exóticas (15 espécies) e 61% (23 espécies) são nativas do Brasil, sendo que duas são endêmicas. As famílias mais expressivas em relação ao número de espécies medicinais relatadas foram Asteraceae (7 espécies), Solanaceae (4 espécies), Verbenaceae e Fabaceae (com 3 espécies cada). As partes da planta mais utilizadas foram folha (37%) e planta inteira (26%). Das espécies levantadas, 24% (9 espécies) não apresentam respaldo na literatura referente ao perfil fitoquímico, sendo cinco destas nativas. A partir dos dados levantados tornou-se possível fazer o levantamento das espécies utilizadas pelas comunidades do entorno do PESN como forma terapêutica. Busca-se, dessa forma, alinhar práticas populares do uso de plantas medicinais com a conservação da biodiversidade. |