Resumo |
Introdução: estudos recentes revelam que indivíduos acometidos pela COVID-19 podem desenvolver a COVID longa ou síndrome pós-COVID, que se refere a sintomas persistentes e sequelas após a infecção pelo vírus SARS-CoV-2. Entretanto, os fatores clínicos associados à persistência de sintomas no período pós-COVID ainda são pouco elucidados na literatura, sendo necessários mais estudos. Objetivo: analisar a associação entre a presença de comorbidades e de fadiga no período de 6 a 9 meses após a hospitalização pela COVID-19. Metodologia: estudo longitudinal, do tipo de coorte, realizado com indivíduos adultos (≥ 18 anos) que foram hospitalizados por COVID-19 em Viçosa-MG no período de abril a agosto de 2021. Foram excluídos aqueles com tempo de hospitalização inferior a 24h, gestantes e indivíduos mentalmente incapazes ou com dificuldades auditivas. Os dados foram coletados mediante a aplicação, por telefone, de um questionário multidimensional semiestruturado após 6 a 9 meses da internação. Foram analisadas as comorbidades diabetes, hipertensão arterial, dislipidemia, doença respiratória e transtorno de ansiedade ou depressão. A presença de fadiga foi identificada por meio da Escala de Fadiga de Chalder. Os dados foram analisados no programa SPSS, versão 21.0, com nível de significância de 5%, e as associações foram testadas pelo teste exato de Fisher. Resultados: foram incluídos 38 indivíduos (28 homens/10 mulheres), com idade média de 47,8 anos (DP=15,9). Um total de 78,9% da amostra (n=30) relatou ter pelo menos uma comorbidade, sendo as mais frequentes o transtorno de ansiedade ou depressão (39,5%), a hipertensão arterial (34,2%) e a dislipidemia (31,6%), seguidas por doença respiratória (21,1%) e diabetes (15,8%). A presença de fadiga foi observada em 47,4% (n=18) dos participantes. Ter pelo menos uma comorbidade foi positivamente associado à fadiga no período pós-COVID (60,0% vs. 0,0%; p=0,003). Quanto às comorbidades específicas, associações positivas e estatisticamente significantes com a fadiga foram observadas para a presença de doença respiratória (87,5% vs. 36,7%; p=0,016) e transtorno de ansiedade ou depressão (80,0% vs. 26,1%; p=0,002). Conclusão: foi encontrada uma associação positiva entre a presença de comorbidades, com destaque para a doença pulmonar e para o transtorno de ansiedade ou depressão, e o relato de fadiga no período pós-COVID, que é um dos principais sintomas da COVID longa. Esses resultados reforçam a necessidade de uma atenção multidisciplinar integrada voltada ao monitoramento e cuidado de indivíduos hospitalizados por COVID-19. |