Resumo |
A corrupção é um fenômeno complexo, atual e de natureza globalizada, difícil de se mensurar e de se definir. Apesar dos múltiplos contornos, em linhas gerais pode-se dizer que ela acontece quando há a violações das regras e leis vigentes com o objetivo de alcançar ganhos privados, enfraquecendo o bem-estar comum. A corrupção gera desconfiança pública nas instituições e no governo, e enfraquece a capacidade do Estado em desempenhar suas funções essenciais. Além disso, os custos da corrupção são substanciais, embora sejam difíceis mensurar de maneira precisa, uma vez que se trata de uma atividade infracional. Embora a análise sobre os condicionantes e efeitos da corrupção tenha ganhado corpo nas últimas décadas, na América Latina essas pesquisas ainda são pouco expressivas. Nesse sentido, o presente trabalho buscou analisar os fatores socioeconômicos e demográficos preponderantes no que se refere à percepção social da corrupção em dezessete países, tomando por base os dados disponibilizados pelo Latinobarômetro, um estudo sistematizado de opinião pública que aplica, anualmente, cerca de 20.000 questionários em diferentes países da América Latina. Para verificar esses fatores, bem como a sua influência sobre a percepção social da corrupção nessas localidades, utilizou-se um modelo econométrico de escolha binária – Probit -, no horizonte temporal do ano de 2020. As variáveis explicativas utilizadas para a análise e validação do modelo foram escolhidas a partir de arcabouço teórico reconhecido, sendo elas: escolaridade, sexo dos indivíduos, idade, ocupação, compromisso religioso e satisfação com a democracia. De modo geral, foi possível observar, a partir dos resultados, que indivíduos com menor escolaridade e do sexo masculino percebem menos a presença da corrupção, o que está em acordo com outros estudos. Os resultados também permitem inferir que, nas localidades e no período analisados, as mulheres percebem a corrupção 19,37 pontos percentuais a mais do que homens. Para a escolaridade, temos que um ano a mais de estudo implica em um aumento da probabilidade de percepção da corrupção em cerca de 7,5 pontos percentuais, e que indivíduos no mercado de trabalho percebem corrupção em cerca de 31,41 pontos percentuais a mais do que indivíduos que estão fora do mercado de trabalho. Apesar de variações nos valores, os resultados obtidos estão em acordo com a literatura, já que estudos prévios indicam que existe uma relação positiva entre escolaridade e trabalho com a percepção da corrupção. No que se refere à religiosidade, indivíduos que possuem compromisso religioso, percebem cerca de 11,57 pontos percentuais a mais do que os indivíduos que não possuem tais compromissos. Com base no exposto, pode-se concluir que a percepção social da corrupção é um indicador importante e reconhecido como útil nas decisões de política pública, com potencial para sugerir políticas públicas mais eficientes. |