Resumo |
Cianobactérias (filo Cyanobacteria) são micro-organismos procariontes gram-negativos que possuem a capacidade de realizar fotossíntese oxigênica. Tais micro-organismos são conhecidos por serem grandes produtores de metabólitos secundários, incluindo compostos bioativos. Destes, destacam-se as cianotoxinas, que apresentam uma grande importância em razão de sua toxicidade. Estas toxinas são classificadas em 4 grupos de acordo com seu impacto em células animais: hepatotoxinas, neurotoxinas, citotoxinas e dermatotoxinas, sendo ainda capazes de produzir lipopolissacarídeos comuns a outras gram-negativas. O grupo das hepatotoxinas inclui as microcistinas e as nodularinas, que são hepta e pentapeptídeos cíclicos, respectivamente, que, quando ingeridas, inibem fosforilases de células hepáticas desencadeando danos agudos ao fígado. Estudos com cianobactérias isoladas de ambientes tropicais são escassos, principalmente aqueles relacionados à caracterização molecular e potencial produção de toxinas. Dessa forma, esse trabalho objetivou descrever, a partir de uma abordagem polifásica, duas linhagens de cianobactérias pertencentes à Coleção de Cianobactérias e Microalgas da Universidade Federal de Viçosa (CCM-UFV), identificadas pelos códigos CCM-UFV010 e CCM-UFV019. Junto à caracterização molecular, também foram realizados screenings moleculares (via PCR) para os genes das vias de produção de microcistina (mycDEG) e nodularina (ndaF). Para confirmação da produção desses compostos foram realizadas análises de cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massas (LC-MS). Os resultados filogenéticos demostram que ambas as linhagens são pertencentes ao gênero Nostoc sensu stricto. Também foi possível amplificar, em ambas as linhagens, os genes relacionados à produção de microcistina e nodularina. A análise das sequências dos genes mcy indicou uma inserção de 47 pb no fragmento do gene mcyD. As análises químicas confirmaram que ambas as linhagens não produzem microcistina, provavelmente em razão da alteração no gene mcyD. Não obstante, tais linhagens são capazes de produzir nodularinas. Até o momento, a produção de nodularina não havia sido observada em espécies circunscritas ao gênero Nostoc sensu stricto. Registre-se, portanto, que as linhagens Nostoc sp. CCM-UFV010 e Nostoc sp. CCM-UFV019 são as primeiras produtoras de nodularina identificadas neste gênero. |