Resumo |
Este trabalho trata-se de um relato de uma das ações extensionistas desenvolvidas pelo Eixo Formação, componente do Programa Casa das Mulheres, através do projeto “Agentes de enfrentamento à violência contra as mulheres em Viçosa-MG: proposição da constituição de uma rede de vigilância e solidariedade” (2022). O projeto tem como objetivo a formação de mulheres que desejam atuar, de forma voluntária e solidária, como agentes de enfrentamento à violência de gênero no município. A formação se dá por meio de oficinas e rodas de conversa acerca de diferentes temas, como a Lei Maria da Penha, patriarcado, relações étnicas-raciais, entre outros. Em um dos locais de atuação do projeto, a Comunidade Quilombola do Buieié, utilizamos a prática do bordado como instrumento de aproximação das mulheres da comunidade, com vistas a oportunizar o aprendizado em grupo sobre a técnica e proporcionar um espaço seguro de interação, expressão e afeto. Os encontros foram realizados conforme os andamentos dos temas debatidos e levados para a discussão, nossas reuniões pautavam-se na escuta ativa e trocas relacionadas ao contexto dos moradores da comunidade, tendo como base de reflexão leituras relativas à questão racial e de gênero, através de pensadores como Abdias nascimento (1980) e Lélia Gonzales (1984). Iniciamos a prática artística com a proposição da técnica de desenho e posteriormente o bordado, visando uma aproximação dos membros da comunidade com o espaço. Os desenhos foram feitos pelos moradores a partir de suas perspectivas históricas, culturais e de vida na comunidade quilombola e, mais adiante, foram bordados para a construção de uma obra coletiva intitulada “Linhas da memória”. O título da obra busca instigar o resgate à memória e as percepções do quilombo por parte dos participantes e, através da pespectiva do projeto, dialogar com a questão de enfretamento à violência contra as mulheres em Viçosa. Este trabalho justifica-se a partir do interesse social e coletivo no que diz respeito às mudanças sociais que tange o combate à violência de gênero e sua superação, tendo como meio de diálogo e incorporação a técnica do bordado na comunidade quilombola mediante sua cultura, arte e história. De maneira que o objetivo central deste relato intenciona a sensibilização e entendimento sobre o combate da violência de gênero, a valorização e potencialização do quilombo enquanto um espaço de trocas artísticas, reflexivas, sociais e culturais. O trabalho possui como metodologia o relato de experiência, através de informações coletadas com as participantes e mediadoras das oficinas realizadas. Como resultado e conclusão, a discussão compreende que o uso e incorporação da arte enquanto uma ferramenta de criação/expressão e a valorização da cultura e história dos quilombolas enriquece discussões sociais importantes no que refere-se ao combate a violência de gênero e a luta coletiva contra essa violência enraizada no contexto histórico-social brasileiro. |