Resumo |
O objetivo deste trabalho é analisar no romance O Crime do Padre Amaro (1875) de Eça de Queirós, a construção da personagem Amélia com base nos aportes teóricos de REIS (2009), CANDIDO (2009), BRAIT (1985) e GANCHO (2002). Amélia é a protagonista feminina do livro e acaba, muitas vezes, sendo esquecida em detrimento de Amaro, quando a obra é analisada. É filha de Dona Joaneira, beata que é amante do Cônego Dias e responsável por hospedar em sua casa o jovem pároco, Amaro, recém chegado a Leiria. É descrita pelo narrador no romance como uma jovem bonita e encantadora. Seu romance proibido com Amaro acontece em meio às sutilezas de uma conquista conduzida de forma muito hábil pelo sacerdote. A existência de Amélia vai se modificando, em função do determinismo que incide sobre suas condutas. A personagem se envolve por completo na sedução do padre até cair em uma melancolia e ataraxia profunda, tornando-se a vítima do romance. De acordo com a Teoria da Narrativa, Amélia é considerada uma “personagem redonda”. É apresentada como uma moça alegre e sociável no início da trama ficcional e vai se modificando com o desenrolar do enredo, tornando-se melancólica, temerosa e isolada ao final. Considerando que Eça é um autor canônico e suas obras são consideradas “de tese”, a escolha de analisar a personagem Amélia em O Crime do Padre Amaro é coerente no que tange à crítica literária portuguesa. Assim, ao analisar o romance queirosiano, este trabalho busca como um de seus objetivos principais desvendar as condutas, os mistérios e as escolhas de uma das personagens principais do livro que inaugura o realismo em Portugal. Além disso, Eça de Queirós é um autor que dota, muito visivelmente, as suas personagens das características da estética realista-naturalista. Sobretudo, em O Crime do Padre Amaro. Sendo características da escrita queirosiana, a apresentação de aspectos patológicos da personagem, desnudando todos os seus instintos, a paixão e o erotismo. Além disso, a análise de Amélia nos traz informações sobre o papel destinado à mulher na sociedade portuguesa do século XIX, bem como nos mostra como Amélia é construída a partir de uma perspectiva ideológica determinista, sendo a maior vítima do Crime do Padre Amaro. |