Resumo |
Introdução. O peixe-escorpião (Scorpaena plumieri) é considerado o mais peçonhento descrito na costa brasileira. As toxinas produzidas por essa espécie, quando inoculadas no Homo sapiens, promovem dor de grande intensidade, cujos mecanismos devem ser adequadamente reconhecidos, para o entendimento da fisiopatologia e a adequada condução clínica (diagnóstico e terapêutica) dos quadros de empeçonhamento. Objetivo. Descrever os acidentes causados por S. plumieri, enfatizando o processo de lesão e as manifestações clínicas, com ênfase no quadro álgico. Metodologia. Empreendeu-se revisão da literatura com estratégia de busca definida, a partir da seleção dos seguintes descritores [decs.bvs.br]: (i) “Fish Venoms”; (ii) “Pain”; (iii) “Envenomation”. A combinação dos três unitermos – (i) + (ii) + (iii) – foi utilizada na consulta ao PubMed [pubmed.ncbi.nlm.nih.gov], no período 01/01/1990 a 30/06/2022. Foram obtidas 41 citações, das quais 32 foram descartadas por não se referirem à espécie S. plumieri. Das nove referências restantes, selecionaram-se preliminarmente quatro para composição da presente comunicação, escolhidas com vistas à abordagem do objetivo supramencionado [Andrich et al. Toxicon 2015, 95:67-71; Campos et al. J Venom Anim Toxins Incl Trop Dis 2016, 22(35): 1-9; Loyo et al. Invest Clín 2008, 49(3): 299-307. Malacarne et al. Toxicon 2018, 150:220–227]. Resultados. Os achados iniciais da revisão bibliográfica assinalam que componentes da peçonha de S. plumieri têm ações hemolíticas, cardiovasculares, inflamatórias, inibitórias e proteolíticas, estas últimas relacionadas à ligação à integrina. Proteínas associadas à atividade hemolítica da peçonha são responsáveis pela maioria dos efeitos neurotóxicos, cardiotóxicos e inflamatórios descritos no empeçonhamento. O composto Sp-CTx – considerado o principal elemento bioativo da peçonha – atua principalmente através da formação de poros dependentes de lipídios, não apenas em eritrócitos, mas também em outros tipos de células, o que poderia explicar a dor observada no empeçonhamento. Esta, usualmente excruciante, é com frequência a primeira manifestação do acidente, ao qual se seguem edema e eritema, ambos associados a uma resposta inflamatória caracterizada pela liberação de mediadores pró-inflamatórios (TNF, IL-6 e MCP-1) e pela ação de proteases, hialuronidases e fatores inibidores de integrinas, cuja atividade pode afetar a matriz extracelular (MEC). Conclusão. As ações da peçonha de S. plumieri seguem em investigação. Nesse sentido, novos estudos são necessários para fornecer um panorama mais completo da composição química e dos efeitos fisiopatológicos das toxinas produzidas por esta espécie. Além dos benefícios para a abordagem dos acidentes, os estudos sobre os componentes da peçonha do peixe-escorpião abrem possibilidades para a elucidação de complexos processos fisiológicos e para o desenvolvimento de novos fármacos. |