Resumo |
A lignina é o segundo polímero natural mais abundante do mundo, perdendo apenas para a celulose. Como subproduto das indústrias kraft de celulose e papel, são produzidas aproximadamente 50 a 70 milhões de toneladas de lignina anualmente. Dentro de um mercado em constante crescimento, combinado à ganhos econômicos em potencial, aumentou-se o interesse em estudar a biorrefinaria da lignina kraft e a geração de produtos de alto valor agregado. No entanto, devido à alta complexidade, heterogeneidade e baixa reatividade da lignina kraft, técnicas de fracionamento precisam ser adotadas para a redução da sua polidispersividade e aumento da homogeneidade de pesos moleculares. Além disso, o fracionamento da lignina kraft tende a melhorar sua trabalhabilidade para a geração de produtos, como os lignosulfonatos. Nesse contexto, o objetivo desse estudo foi avaliar a eficiência de métodos de fracionamento da lignina kraft de eucalipto utilizando solventes orgânicos e precipitação pelo efeito do pH, e a caracterização das frações produzidas. Os solventes orgânicos utilizados nos experimentos foram: acetato de etila, etanol, metanol e acetona. Os pHs testados foram 9, 7, 5, 3 e 1. O fracionamento foi realizado em etapa única e sequencialmente para ambos os métodos. As frações foram caracterizadas quanto aos teores de lignina solúvel em ácido e insolúvel, carboidratos e cinzas, bem como por análise elementar. Teores S/G foram determinados por Pi-CG-EM. Foi possível obter diferentes frações de lignina tanto no fracionamento por solventes orgânicos quanto por precipitação ácida. Os maiores rendimentos foram alcançados pelo solvente metanol (87,5%) em etapa única e também em fracionamento sequencial, atingindo 43,5%. Já através do fracionamento por pH, o maior rendimento obtido em etapa única foi 42,5%, no pH 1,0, como esperado devido à baixa solubilidade da lignina em meio ácido. Porém, sequencialmente, o maior rendimento foi obtido no pH 9,0. As frações com maior teor de carbono em cada método de fracionamento foram as que utilizaram acetona por fracionamento sequencial (64,7%) e a insolúvel em pH 1 (52,2%) por fracionamento em uma etapa. As frações solúveis em acetato de etila e insolúveis em pH 3 e 1 pelo método sequencial foram as frações com maior relação S/G. No geral, todas as frações isoladas, em ambos os métodos de fracionamento, apresentaram maiores teores de carbono e pureza e menor relação S/G que os materiais iniciais (lignina kraft de eucalipto e licor negro kraft de eucalipto), características muito favoráveis à aplicação em biorrefinaria. Conclui-se que houve modificação química da lignina kraft com os métodos de fracionamento adotados e, com a grande variabilidade de frações produzidas, pode-se adequar cada fração à uma aplicabilidade da lignina kraft distinta e específica. |