Resumo |
Este trabalho busca refletir sobre a “questão social” enquanto resultado das desigualdades produzidas pela sociedade capitalista, buscando identificar as formas como ela se expressa e é divulgada nos programas televisivos de auditório, como no quadro De volta para o meu aconchego. Nesse quadro, a migração de nordestinos de retorno para a sua terra natal, enquanto expressão da “questão social”, é divulgada como mecanismo de entretenimento e de exploração do ser humano. Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa qualitativa de caráter descritiva exploratória. As análises se pautaram nos instrumentais da Análise do Discurso Fílmica, por meio da qual buscou-se compreender os diversos elementos que compõem a narrativa e como eles estabelecem discursos e imaginários. Considera-se, conforme (IAMAMOTO, 2001, p.10), que a “questão social” é “parte constitutiva das relações sociais capitalistas”, e reúne uma série de desigualdades revelando “o anverso do desenvolvimento das forças produtivas do trabalho social”. O sistema capitalista amplia as desigualdades sociais e agudiza as expressões da “questão social”, uma vez que esse sistema pressupõe o empobrecimento de muitos para enriquecer uma minoria, ampliando os mecanismos de exploração, opressão e violação de direitos humanos que segregam e impactam cada vez mais a população. Na contemporaneidade, a mídia brasileira tem sido um palco difusor e propagador das diversas expressões da “questão social” em nosso território, contribuindo para que haja uma série de processos discriminatórios, vexatórios e culpabilizatórios nas relações sociais. As narrativas apresentam estratégias, lógicas de enquadramentos e discursos que propagam estigmas, preconceitos e estereótipos cristalizados sobre determinados sujeitos, situações e locais. No caso do quadro De volta para o meu aconchego, observa-se nas narrativas discursivas que a “questão social” é divulgada como pobreza e fome, sendo retratadas de forma desconecta de um contexto maior da sociabilidade capitalista. A veiculação espetacularizada da “questão social” mescla anseios, fragilidades, direitos, negações e privações para uma “manutenção” de uma possível ordem social (a partir de jogos de relações de poder) veiculadas e reforçadas por meio da mídia, direta ou indiretamente. Esse processo é composto por um conjunto de jogos de linguagem que, por vezes, encobre a realidade e direciona o entendimento dos fenômenos sociais. Para tanto, é de suma importância estudar as discursividades que envolvem os processos migratórios, desvelando o que se encontra por detrás dessas construções simbólicas, pois elas dizem respeito não somente ao deslocamento em si, mas, sobretudo, trazem elementos centrais para a compreensão da “questão social” brasileira tais como: exploração da força de trabalho, desigualdade social, pobreza, exclusão, falta de acessos a políticas públicas e a direitos. |