Resumo |
A pandemia global da Covid-19 é um dos acontecimentos históricos mais marcantes dos últimos tempos, ela vitimou mais de seis milhões de pessoas no mundo. O primeiro caso registrado no Brasil ocorreu em 26 de fevereiro de 2020 e naquele mesmo ano tornou-se uma pandemia que vitimou quase duzentos mil brasileiros. A pandemia potencializou debates sobre saúde pública, economia, educação, dentre outros. Naquele contexto não havia vacina, mas um amplo debate sobre a melhor forma de impedir a evolução da pandemia. O Governo Federal era resistente às medidas sanitárias de isolamento e enfatizava que isso poderia “quebrar” o Brasil, uma vez que haveria perda de postos de empregos e receitas, e aumento de gastos. Diversos agentes da sociedade civil se manifestaram a respeito dessas temáticas, grupos religiosos diversos se mostraram contrários ao fechamento de templos e apoiaram o Governo Federal em suas proposições. Agentes evangélicos ocupavam cargos importantes no Governo de Jair Bolsonaro e mostravam-se alinhados às suas proposições. Uma instituição importante no campo religioso e político brasileiro é a Igreja Universal do Reino de Deus que publica semanalmente o jornal Folha Universal com o propósito de orientar seus pastores e fiéis sobre os diversos acontecimentos. Nosso trabalho tem como objetivo analisar de que maneira os assuntos relacionados à Covid-19 foram mobilizados pela Igreja Universal em seu jornal. A análise do material se deu de forma qualitativa e qualitativa, o foco se deu nas notícias relacionadas à Covid-19. A análise qualitativa se deu com a leitura e análise dos seus conteúdos, sobretudo do “editorial”. A análise quantitativa se deu no levantamento do número de notícias e edições em que a temática da Covid-19 ocupou espaço relevante. Nossa análise indica imbricações entre os campos político e religioso, em que houve evidente apoio da Igreja Universal aos posicionamentos de Jair Bolsonaro, especialmente no que se refere à defesa de políticas de isolamento vertical (um tipo de medida preventiva da pandemia que foi muito repercutida pelo presidente) e da utilização da hidroxicloroquina como medicamento no tratamento da doença causada pelo coronavírus. Duas medidas que não contavam com comprovação científica da eficácia dos métodos. Foram observadas críticas do Jornal “Folha Universal” à imprensa secular, sobretudo a Rede Globo e a Folha de São Paulo. Também criticaram as medidas proibitivas dos cultos presenciais durante o ápice da pandemia. Segundo a perspectiva do jornal, estas seriam medidas de esquerda e ligadas ao comunismo. No mesmo sentido, criticaram o Partido dos Trabalhadores, a esquerda brasileira e acionaram discursos que pautaram as eleições presidenciais de 2018, como corrupção, ideologia de gênero e comunismo. As informações passadas aos fiéis se orientavam num processo de relações de convergências entre a moral religiosa e propósitos políticos de apoio ao presidente Jair Bolsonaro. |