Resumo |
Na concepção de equipamentos coletivos voltados à educação, ao lazer e à cultura, o escritório colombiano El Equipo Mazzanti tem experimentado novas formas de pensar, produzir e construir o espaço ao desenvolver estratégias de participação voltadas para a abertura do processo de projeto sem desconsiderar as singularidades da realidade sociocultural e econômica da América Latina. A produção teórica e prática realizada pelo escritório investiga a possibilidade da arquitetura ser pensada enquanto jogo lúdico a partir de sua condição “relacional” e, dessa forma, aposta no papel pedagógico que pode ser atribuído ao espaço no estabelecimento de novas relações entre as pessoas, e destas com o espaço construído, que passa a ser concebido enquanto “obra aberta”: apropriável, transformável e passível de ressignificações. Esta pesquisa tem como principal objetivo analisar um recorte da produção arquitetônica desenvolvida por Mazzanti a partir da compreensão dos fundamentos conceituais e teóricos que a mobiliza, buscando também compreender os modos como tais fundamentos se desdobram em experimentos práticos voltados para a abertura do processo de projeto. Na primeira parte da pesquisa, voltada à fundamentação teórica, nos aproximamos da discussão sobre a participação em arquitetura, a teoria do jogo lúdico, desenvolvida por Johan Huizinga no livro Homo Ludens (1938), e a concepção da Estética Relacional realizada por Nicolas Bourriaud (1998) no livro de mesmo nome. Buscamos compreender a forma como Mazzanti se apropria dessas referências para criar o conceito de “anomalia” que, por sua vez, vai dar origem às “seis estratégias para uma arquitetura mais participativa” que guiam a produção do escritório. Nos debruçamos sobre cada uma dessas estratégias a fim de compreender suas singularidades. Na segunda parte da pesquisa selecionamos como estudo de caso três projetos construídos que foram concebidos a partir do emprego de estratégias participativas distintas. São eles: Jardín Infantil El Porvenir (Bogotá, 2009), Parque Educativo Marinilla (Marinilla, 2015) e 21 Preescolares del Atlántico (Atlántico, 2016). A análise dos projetos colocou em evidência que o processo participativo em arquitetura envolve diferentes atores e, dependendo do tipo, das dimensões e dos atores envolvidos no processo, a abordagem adotada por Mazzanti é muito diferente. Em alguns projetos a participação é alcançada durante o processo de projeto, ao promover o engajamento dos usuários na concepção do espaço. Em outros, no entanto, a participação é mobilizada após a construção da edificação, seja através da concepção de sistemas construtivos modulares e abertos, que permitem que os espaços sejam alterados ou ampliados ao longo do tempo e de acordo com as necessidades dos usuários, seja através da concepção da “arquitetura performática”, idealmente capaz de atribuir aos usuários um papel de protagonismo no processo de configuração, apropriação e atribuição de sentidos ao espaço. |