Resumo |
Gênero e poder estão sempre intrinsecamente entrelaçados gerando profundo impacto social. Neste diapasão, Chimamanda Adichie tem nos apresentado em sua ficção inúmeros tipos que exemplificam esta associação. Especificamente em seu romance de estreia Hibisco Roxo, nos deparamos com conflitos causados dentro do drama familiar por excessos de poder do pai. Neste trabalho, pretendemos analisar no romance as relações de poder atreladas à caracterização do masculino em torno do protagonista Eugene e a constituição da sua subjetividade baseada no convencionalismo e no estereótipo do masculino. Dessa forma, objetivamos: i) identificar os traços que caracterizam o estereótipo de gênero deste personagem; ii) analisar o impacto desta figura paterna no núcleo familiar e na comunidade, bem como sua influência na construção da subjetividade das demais personagens do romance; iii) investigar como o poder associado à sua masculinidade representa antagonismo na trama. A análise se baseia nos estudos de Michel Foucault acerca do poder, especificamente no que tange a sua investigação das “microfísicas do poder”; estes estudos elucidam a respeito de como as relações de poder, dentro da sociedade pós-moderna, difundem-se no corpo social por intermédio de uma gama de coerção que se dá além da via estatal, perpassando instituições como a escola, o sistema carcerário, os hospitais e a família. Ainda com base no mesmo autor, tais relações, a partir da vigilância sobre os corpos dos indivíduos, estão ligadas diretamente ao âmbito do saber, pois o objetivo de sua força é agir na construção de verdades. Tendo em mente que as verdades estão condicionadas a objetivos de poder, investigamos no presente trabalho sua contingencialidade em relação a constituição dos papéis de gênero. Por esta razão, atentamo-nos aos estudos a respeito da constituição das identidades masculinas de Elisabeth Badinter. Em seu livro XY: sobre a identidade masculina, a autora discorre sobre como os modelos de masculinidade – gerados tanto dentro do patriarcalismo quanto no anti-patriarcalismo – produziram o “homem mutilado”, o que contribuiu para gerar uma crise da masculinidade. Diante disso, ela clama pela necessidade de construção de novos modelos de gênero. Por ser parte de uma pesquisa em andamento, o trabalho ainda não apresenta conclusões definitivas. |