Resumo |
O esgotamento dos combustíveis fósseis e a demanda por fontes renováveis de energia impulsionam o uso de matérias-primas sustentáveis, como as biomassas lignocelulósicas. O bagaço de cana-de-açúcar, matéria-prima lignocelulósica de baixo custo, pode ser utilizado como substrato para o cultivo de leveduras oleaginosas, as quais são fontes alternativas de lipídios para a produção de biodiesel. Durante o tratamento dessas biomassas, compostos inibidores do crescimento microbiano são liberados, como hidroximetilfurfural, furfural e ácido acético, sendo este último capaz de difundir pela membrana celular, promovendo a acidificação do citosol da célula. A levedura Papiliotrema laurentii ATS I é uma linhagem selecionada por evolução adaptativa que apresenta maior tolerância ao ácido acético do que a linhagem parental. O presente trabalho teve como objetivo avaliar a capacidade da adaptação de curto prazo em hidrolisado hemicelulósico de bagaço de cana-de-açúcar não-detoxificado para produção de lipídeos por P. laurentii ATS I. Para a adaptação, os microrganismos foram previamente ativados em meio SS2 modificado [(m/v): 0,1% extrato de levedura; 0,5% (NH4)2SO4; 0,01% NaCl; 0,01% CaCl2; 0,05% MgSO4] e mantidos a 30 ºC/200 rpm por 16 h. Em seguida, leveduras com densidade óptica à 600 nm (DO600) de 0,1 foram submetidas a duas adaptações consecutivas em meio com hidrolisado [(m/v): 75% hidrolisado; 0,1% extrato de levedura; 100:1 (C:N) (NH4)2SO4; 0,01% NaCl; 0,01% CaCl2; 0,05% MgSO4], mantidas a 30 ºC/200 rpm (1ª adaptação - 240 h; 2ª adaptação – 196 h). Em paralelo, antes e após as adaptações, leveduras foram cultivadas em meios com 100% de hidrolisado (n = 3), nas mesmas condições das adaptações (1º cultivo – 240 h, 2º cultivo – 196 h, 3º cultivo - 149 h). O teor de lipídios foi analisado por método gravimétrico e acompanhado em fluorímetro utilizando o vermelho do Nilo; e o teor de açúcares redutores foi avaliado pelo método do 3,5-ácido dinitrosalicílico (DNS). A adaptação das leveduras foi satisfatória, sendo evidenciada pelos parâmetros cinéticos e fisiológicos [biomassa final (g/L), glicose consumida (g/L), lipídeos % (m/m), teor de lipídeos (g/L) e produtividade volumétrica lipídica (g/Lh)] – (cultivo após primeira adaptação: 4,978 ± 0,262; 23,46 ± 0,023; 17,143 ± 1,5288; 0,8535 ± 0,076; 0,004 ± 0,001, respectivamente; cultivo após segunda adaptação: 4,128 ± 0,135; 20,34 ± 0,052; 17,395 ± 1,5539; 0,7181 ± 0,064; 0,005 ± 0,001, respectivamente), os quais foram superiores do que no cultivo sem adaptação (3,443 ± 0,294; 14,61 ± 0,015; 9,194 ± 1,838; 0,3166 ± 0,063; 0,001 ± 0,001, respectivamente). Portanto, conclui-se que a adaptação a curto prazo é uma estratégia eficaz para melhorar o desempenho de crescimento e produção de lipídios de P. laurentii ATS I cultivada em hidrolisado hemicelulósico de bagaço de cana-de-açúcar. |