Resumo |
George Sand (1804-1876), pseudônimo adotado por Aurore Amandine Lucile Dupin, foi uma das representantes da Literatura Francesa no século XIX. Romancista, jornalista e crítica literária, conta com uma vasta produção entre os anos de 1830 e 1870, dentro dela constam romances, contos, artigos críticos para jornais, ensaios políticos e textos autobiográficos. Figurando na lista de escritores internacionais mais importantes da dita literatura universal da época (FERNANDES, 2012, p.76). A aparição da obra de Sand no Brasil se faz num contexto de grande influência cultural francesa, compreendendo os decênios de 1830 e 1840, perpetuando-se por todo o oitocentos. Nesse período de guinada cultural e literária, também se intensifica a publicação de periódicos - a imprensa como órgão de formação da opinião pública, foi também espaço essencial para a crítica literária brasileira do século XIX. Assim, chama atenção a natureza da recepção da obra da autora francesa nessa ambiência a qual, não raro, entrecruza imprensa e literatura. Lançamos nosso olhar para a compreensão de questões que concernem a imagética e a recepção de George Sand no periodismo acadêmico paulista do século XIX, publicado entre os anos de 1847 e fins do decênio de 1860, recorte que se configura como o corpus desta pesquisa. Pretendemos, dessa maneira, entender a ambígua presença da autora, que ora é apresentada enquanto musa, criada e representada não apenas na crítica, mas também na poesia propriamente dita dos autores brasileiros, como Álvares de Azevedo e Castro Alves. Ora como sujeito criador, momento no qual são direcionadas análises à sua obra. Assim, objetivamos compreender, a partir do levantamento e análise de textos jornalísticos disponíveis na Hemeroteca Digital, da Biblioteca Nacional e de obras poéticas publicadas no oitocentos, as possíveis diferenças na representação poética de Sand e na análise crítica de sua produção. Para tanto, recorremos à Teoria do Campo, de Pierre Bourdieu (1996), para lançar luz ao entendimento da estrutura de organização do campo literário, distinguindo assim as forças que interferiram na recepção da obra e da autora na crítica acadêmica da São Paulo oitocentista. Esse campo foi escolhido por conta das afinidades morais e literárias percebidas por mais de um estudioso da nossa literatura (SOUZA, 2021; CANDIDO, 2002) entre a segunda geração do romantismo brasileiro e a sua correspondente francesa. A partir deste estudo ainda em andamento, poderemos averiguar a validade das hipóteses sobre a dualidade preliminarmente entrevista na recepção dessa figura. Além disso, pretendemos compreender se a visibilidade da obra de George Sand, apesar de sua consagração, é afetada por uma possível rejeição à literatura produzida por mulheres, diante do domínio masculino no campo literário. |