Resumo |
Em 2002 completou o centenário da assinatura do Decreto nº 6053 de 30 de março de 1922, que autorizava a construção da Escola Superior de Agricultura e Veterinária - ESAV, primeira fase da Universidade Federal de Viçosa - UFV, a data representa um importante marco para nosso estudo, uma vez que data o início das obras de construção da ESAV e já contava com um número expressivo de operários, cerca de quinhentos. Assim, nossa pesquisa investigou a participação desses trabalhadores e a obliteração das narrativas do grupo no enquadramento das memórias oficiais, que privilegiam a participação das autoridades políticas e acadêmicas, o corpo docente e discente, e pouco se fala no corpo Técnico Administrativo em Educação - TAE. Considerando a amplitude de cargos da carreira dos TAEs, nosso recorte temático focou nas narrativas dos operários, primeiros trabalhadores contratados e que se mantiveram ao longo do período de evolução física e acadêmica da universidade e por serem considerados a base da hierarquia funcional do grupo. Dessa forma, a pesquisa apurou as contribuições do grupo dos operários da Universidade no período de 1922 a 1969 ao longo da história institucional. A execução da pesquisa se deu por análise documental e do testemunho oral desses trabalhadores ou seus descendentes, além de lideranças políticas do segmento e de gestores da memória institucional. Os fundamentos da história oral foram primordiais para nosso estudo, uma vez que, as memórias desse grupo não estavam tão explícitas nas publicações e documentos analisados. Em nossa pesquisa encontramos informações sobre a relação de trabalho e seus modos de vida. A partir dos resultados da pesquisa identificamos características das políticas internas para o grupo, como as classes de alfabetização, cursos profissionalizantes e adoção de medidas higienistas para cuidados de saúde e vícios. Tudo isso a partir de um controle disciplinar rígido, ou seja, o controle da vida do operário e seus familiares, dentro e fora do canteiro de obras. Constatamos ainda, uma prática de apadrinhamento, espécie de política de favorecimento a uma parte restrita do grupo em detrimento do coletivo. Também apuramos que o acesso tardio do grupo à educação formal dificultou a reflexão sobre a própria condição, o que foi alterado somente a partir da organização política do grupo, onde houve ascensão interna, conferindo algum protagonismo do grupo no arranjo político institucional. Concluímos que, em que pese as narrativas não consideradas na composição do quadro de memória institucional, a presença e atuação desses personagens são percebidas em vestígios físicos ou imateriais, cabendo, a partir do produto da pesquisa, o registro e a divulgação dessa atuação. Uma forma de recompor o quadro de memória institucional, garantindo a representação da diversidade dos grupos que compõem a memória coletiva da comunidade universitária. |