Resumo |
Num período em que literatura é sinônimo de civilização, os intelectuais de uma nação recém-independente reúnem-se em torno dessa questão com o intuito de chegarem ao cerne da autonomia das letras pátrias, consolidando, no plano simbólico, a autonomia conquistada no político. Desse modo, com o advento da imprensa e a formação de pequenas associações com berço na Faculdade de Direito de São Paulo, intensifica-se a produção crítica, divulgada especialmente em periódicos da época criados por esses grupos estudantis numa tentativa de fomentar a produção científica e driblar as negligências governamentais para com a Academia. Levando-se em conta tais aspectos e o interesse em entender as vozes que circulavam na imprensa acadêmica oitocentista de São Paulo, espaço principal da segunda geração do nosso romantismo, além de suas influências na formação da nascente literatura brasileira, este trabalho tem por objetivo identificar e analisar artigos de crítica literária em suas múltiplas facetas com base na dicotomia hegemonia versus dissonância, aspecto que permeou grande parte das publicações da época, sendo que, enquanto esta se associa ao discurso cosmopolita, aquela respalda-se pelo nacionalismo literário ligado à cor local. Ademais, foram levadas em conta as principais teses que influenciaram nossos jovens literatos, difundidas sobretudo no ambiente acadêmico por meio da leitura de outras revistas, nacionais e/ou internacionais, e como elas dialogavam com a adoção de um posicionamento crítico. Dada sua amplitude, a pesquisa conta com um corpus de 35 periódicos, dos quais 12 já foram catalogados, publicados entre os anos de 1847 e fins da década de 1860, os quais se encontram disponíveis para consulta na Hemeroteca Digital, da Biblioteca Nacional. Em relação à perspectiva de interesse, foram encontrados 45 artigos que abordam a literatura, dos quais 23 (51,1%) são reproduções do hegemonismo em graus que variam de uma aproximação da centralidade e o extremo nacionalismo, perpetuado por autores como Macedo Soares, enquanto as vozes dissonantes representam os 22 demais (48,9%), cujos critérios dominantes são aqueles ligados ao julgamento de obra literária nacional ou estrangeira sem invocar as pautas nacionalistas e à abertura e/ou aceitação da influência estrangeira, com base na percepção de que o processo de formação de uma dada literatura se dá por meio da interlocução entre diferentes povos, vertente que contemplou, dentre outros, autores como Lindorf França inspirado pelo pensamento crítico de Álvares de Azevedo que, por sua vez, representou um importante expoente desse ideal. |