Resumo |
O aquecimento global tem evidenciado problemas cada vez maiores e interligados aos acontecimentos de eventos extremos. Na Antártica, o derretimento do gelo e da neve contribuem de maneira direta nos fenômenos de elevação dos níveis médio dos mares e das mudanças climáticas a nível local e global. Apesar dos avanços e recuos das geleiras, em geral, acontecerem de maneira síncrona, alterações nos climas locais podem causar diferenças neste comportamento. Esses processos são dependentes de vários fatores e com o aumento do aquecimento global, a deglaciação pode ser intensificada. Diante do exposto, objetivou-se avaliar a dinâmica de retração de área glacial em Demay Point, Antártica Marítima, entre os anos de 1956 e 2020. Demay Point (latitude 62°11'57.69"S e longitude 58°28'41.59"W) localiza-se na Ilha Rei George, que faz parte do Arquipélago Shetlands do Sul, e foi visitado em 2020. Na região, foram realizadas coletas de imagens aéreas por VANT equipado com uma câmera de 20 megapixels e um GPS para registrar a geolocalização de cada imagem. Os planos de voos foram gerados pelo aplicativo Dronedeploy, com nível de sobreposição das imagens de 75% na faixa e 70% entre faixas. O processamento fotogramétrico de imagens digitais foi realizado com o software Agisoft Metashape Pro, versão 1.6.3. A imagem utilizada para o ano de 1956 foi obtida pelo site do Earth Explorer, disponibilizado pela agência British Antarctic Survey, com resolução espacial de 90 centímetros. Ambas as imagens foram coletadas no período de verão austral. A análise espacial dos dados obtidos, o georreferenciamento da imagem de 1956 e a geração do polígono manual da área representativa de solo exposto nas imagens de 1956 e 2020 foram feitas através do software de sistema de informação geográfica QGIS, versão 3.16.15. A utilização da câmera de 20 megapixels na faixa do visível acoplada ao VANT permitiu capturar imagens georreferenciadas de alta resolução espacial (0,9 metros). Os resultados da retração das geleiras mostraram uma área total de aproximadamente 1,7 km² de solo exposto em 1956, enquanto em 2020, a área total foi de 5,4 km². Esse valor representa uma área livre de gelo 317,7% maior e indica um aumento na retração de 217,7% em um período de 64 anos. Além disso, foi possível observar o aparecimento de extensas comunidades vegetais ao longo da área de estudo, enquanto na imagem de 1956 foi imperceptível. Contudo, é notório como ocorreu um grande avanço na retração das geleiras num período de 64 anos e fica evidente a necessidade de monitoramento das áreas livres de gelo da Antártica e da projeção de estudos que acompanhem as alterações na região pelo aquecimento global. |