Resumo |
De forma notória, os evangélicos têm se aventurado no campo do humor a fim de produzir conteúdos alternativos na internet. Assim sendo, o que salta aos olhos é o canal “desconfinados”, do qual o principal idealizador e roteirista é o Jonathan Nemer, conhecido como humorista e evangélico. Ele compartilha esquetes no Youtube relatando as mais diversas situações do cotidiano, inclusive as da vida do povo evangélico. À vista disso, o objetivo geral desta pesquisa consiste em analisar as estratégias discursivas relacionadas ao humor nos esquetes do canal “desconfinados”, uma vez que torna-se importante vislumbrar a natureza do humor nesse canal. Paralelamente, alguns objetivos específicos são: i) examinar as condições e as circunstâncias que determinam a instância de produção dos esquetes do canal “desconfinados”; ii) descrever o contrato de comunicação dos esquetes de “desconfinados”; iii) descrever as situações de comunicação nas quais os personagens dos esquetes se encontram; iv) reconhecer os diversos sujeitos que integram a enunciação nos esquetes; e v) identificar e descrever os atos de comunicação humorísticos nas falas das personagens dos esquetes. No que tange à metodologia, consideramos a teoria Semiolinguística de Patrick Charaudeau, pois ela oferece um aparato teórico-metodologico adequado para a análise dos atos de comunicação humorísticos nos esquetes. Quanto ao corpus, cinco esquetes do canal são representativos para a análise, com os temas relacionados ao mundo evangélico. Dessa forma, cabe relatar alguns resultados e considerações finais da pesquisa: através das personagens em interação nas cenas ficcionais, é possível concluir que os esquetes do canal possuem certas tendências, a saber: i) atacar personagens que representam pessoas para gerar o riso, especialmente mulheres/moças do meio evangélico; ii) ter também como alvos os vícios e os pecados, o que nos levou a concluir que o canal, além de fazer humor, também faz religião; iii) buscar um aumento de alteridade com um público mais amplo, principalmente os não evangélicos. Além disso, constata-se que, devido à prevalência de derrisão no corpus em relação aos alvos (na cena ficcional a derrisão ocorre cinquenta e oito vezes; na cena não ficcional, há quarenta e uma ocorrências), há uma prevalência do riso de zombaria. Não obstante, é possível afirmar em alguns momentos a presença de um riso maldoso, especialmente quando mulheres/moças são atacadas. Nesse ínterim, pode-se afirmar que evangélico também faz rir. Mas deve haver um propósito: fazer humor para um evangélico é também fazer religião. Além disso, deve-se fazer rir buscando uma imagem mais simpática do protestantismo, a fim de que os não fiéis vejam que os evangélicos não são caretas e rombudos. Contudo, é preciso ter limites e deixar claro que não se deve deixar levar pelo humor convencional ou pelo humor iconoclasta, uma vez que até mesmo a atividade de fazer rir deve ser feita de forma mais próxima de Deus. |