Resumo |
INTRODUÇÃO: Dados sobre a morbimortalidade pela COVID-19 em crianças e adolescentes ainda são escassos na literatura. OBJETIVOS: Analisar a sobrevida de crianças e adolescentes hospitalizados por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) provocada pela COVID-19, bem como os fatores preditores para o óbito. METODOLOGIA: Coorte retrospectiva de crianças e adolescentes hospitalizados com SRAG por COVID-19, registrados no Sistema de Vigilância Epidemiológica da Gripe em 2021 e com confirmação laboratorial por RT-PCR (reação de transcrição reversa seguida de reação em cadeia da polimerase). Desfecho: tempo de sobrevida desde o início dos sintomas até a evolução do caso, caracterizada por óbito ou recuperação. Variáveis explicativas: dados sociodemográficos, condições clínicas e evolutivas. Realizou-se análise descritiva e inferencial. Avaliou-se a normalidade das variáveis pelo teste de Kolmogorov-Smirnov. Calculou-se os óbitos e as taxas de letalidade de acordo com cada uma das variáveis explicativas. Realizou-se análise de sobrevida pelo estimador Kaplan-Meier e utilizou-se a regressão de Cox para investigar os fatores preditores para óbito. Estimou-se as razões de risco e seus respectivos intervalos de confiança de 95% e considerou-se significante valor de p < 0,05. Por ser uma pesquisa com dados de domínio público e que não identifica seus participantes, não foi necessária aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos. RESULTADOS: Foram incluídos dados de 14.116 crianças e adolescentes. A taxa total de letalidade foi de 4,5%. As maiores taxas de letalidade ocorreram entre adolescentes de 12 a 18 anos, raça indígena/amarela e preta/parda, residentes na zona rural e nas regiões brasileiras norte/nordeste, naqueles que evoluíram com SRAG-crítica e com presença de pelo menos uma comorbidade. As comorbidades com maior letalidade, em ordem decrescente, foram as doenças hepática e cardiovascular, Síndrome de Down, obesidade, imunodepressão, doenças hematológica, neurológica, renal e pulmonar e o diabetes. A asma apresentou a menor taxa de letalidade. Os seguintes fatores foram preditores para os óbitos: ter idade entre 12 e 18 anos, residir na região norte/nordeste, evoluir com SRAG-crítica e apresentar imunodepressão; a asma comportou-se como fator de proteção. CONCLUSÕES: Essa coorte retrospectiva analisou a sobrevivência e os fatores preditores para o risco de óbito em crianças e adolescentes hospitalizados com SRAG por COVID-19 no Brasil, no período de um ano. Foram preditores para os óbitos ter idade entre 12 e 18 anos, residir na região norte/nordeste, evoluir com SRAG-crítica e apresentar imunodepressão; contudo, a asma comportou-se como fator de proteção. Como forma de implicar na prática clínica e políticas públicas, o estudo representa as crianças e adolescentes brasileiros hospitalizados por SRAG pela COVID-19 durante um ano de pandemia e contribui para a ampliação dos conhecimentos acerca da morbimortalidade pela COVID-19. |