Resumo |
Há muito tempo, em diversos contextos, existem hierarquias de gênero e designações de papéis socialmente convencionados daquilo que deve ser feito pelo homem ou pela mulher. Assim, popularmente dizendo, existe o “lugar do homem”, geralmente associado ao poder, e o “lugar da mulher”, geralmente submissa aos que estão no poder. Além disso, essas relações hierárquicas encontram-se em diversas situações comunicacionais voltadas, por exemplo, ao matrimônio, à casa, às artes, ao teatro, ao trabalho e, como foco de nossa pesquisa, à política. Na antiguidade (ARISTÓTELES, 2019; PLATÃO 2014; CÍCERO, 2012) era atribuído, ao chefe de família, o mesmo poder, em níveis diferentes, voltados a um Chefe de Estado. À instituição familiar indicava-se as mesmas características de um reinado. Nesse sentido, identifica-se ao homem, por uma ordem natural do mundo, sua superioridade sobre a mulher, atribuindo-a ao lar e às regras do marido, enquanto este, como cidadão, detém direito à política. Para que pudessem realizar as mesmas tarefas que os homens, as mulheres deveriam ter sido educadas da mesma forma que eles. Porém, isso é visto como “ridículo” (PLATÃO, 2014). Já no Brasil, em um salto temporal maior que reverbera as conceituações clássicas, elegeu-se a primeira mulher como Presidente da República somente em 2011. Por mais que haja, cada vez mais, a presença delas em discussões e lugares, a representatividade percentual dessa categoria em posições poder ainda é baixa, fazendo com que a classe permaneça como minoria no âmbito político. Diante disso, Dilma foi a única presidente retratada nos livros didáticos, nos jornais impressos, digitais e televisivos e no Guia Politicamente Incorreto dos Presidentes da República (2016), obra proposta como corpus do presente trabalho. Porém, é possível, ainda, perceber que a figura da mulher se mostra presente ao longo de todo o Guia. Isso porque, nas outras seções, há interação com mulheres nos papéis sociais de mães, esposas, amantes, colegas, irmãs, filhas etc., as quais estão relacionadas, de certo modo, ao contexto político apresentado. Assim, nosso objetivo geral é analisar, pelo viés da Teoria Semiolinguística, mais especificamente pelos conceitos de Charaudeau (2006a; 2006b; 2007; 2008; 2016), Mello (2004), Amossy (2011), e Vale (2009; 2013), as estratégias linguístico-discursivas presentes nos seguimentos do Guia para construção das representações sociodiscursivas a respeito da mulher na República brasileira. Além disso, nossos objetivos específicos são: (1) traçar um panorama histórico, linguístico e discursivo para compreender a posição da mulher na sociedade e na República do Brasil; (2) identificar as representações referentes à imagem da mulher no Guia; (3) compreender os contratos de comunicação das cenas internas (MELLO, 2004) que indicam a representação da mulher, que é nosso objeto de pesquisa; (4) determinar as estratégias discursivas utilizadas pelas figuras femininas, pelos outros personagens e pelo Guia. |