Resumo |
Os Almanaques Farmacêuticos (AFs), periódicos produzidos em alta tiragem ao longo do século XX por várias das maiores empresas de fármacos nacionais, constantemente procuram transmitir, misturados a uma gama de anúncios voltados para a venda de remédios, uma espécie de discurso político-pedagógico que “atravessa” quase todos os gêneros textuais por eles suportados. Essa percepção tornou-se mais evidente quando feita a análise de um gênero em particular: as piadas. A presente pesquisa tomou como objetivo um estudo dos Atos de Comunicação Humorísticos (ACHs), e como estes se alinham ao discurso político-pedagógico próprio desses AFs, também aos discursos higienistas e eugenistas circulantes na sociedade do século XX, de tal forma que propõem uma linha argumentativa de (re)formulação dos imaginários relacionados ao homem. Com um corpus formado por 83 piadas de AFs, publicadas ao longo das décadas de 30, 50, 60, 70, 80 e 2000, o percurso percorrido de análise parte da busca do reconhecimento dos múltiplos sujeitos que compõem a enunciação das piadas, da descrição dos contratos de comunicação estabelecidos, de indagações sobre as condições e as circunstâncias que determinam a produção dos discursos nas piadas de AFs, da verificação das relações interdiscursivas estabelecidas dentro das piadas até a exposição das representações sociodiscursivas referentes aos homens nesses almanaques, examinando a evolução dessas no decorrer do século XX. Como aparato teórico-metodológico, foi utilizada a Teoria da Semiolinguística de Patrick Charaudeau, bem como as proposições do autor para o estudo dos imaginário, das representações sociodiscursivas e do humor enquanto estratégia discursiva. A partir da investigação concluída, desvelou-se como se dão as diversas representações do homem dentro das piadas de AFs, aparecendo em suma maioria como pai, marido ou filho, membros de um ciclo familiar, ou também como personagens que circulam tradicionalmente no cotidiano dessas famílias. Ademais, foram apontadas as estratégias discursivas utilizadas nesses textos, a mencionar a criação de ethé discursivos sobre tais personagens, o uso frequente do sarcasmo e de uma incoerência paradoxal, orientados por uma ótica higienista-eugenista de constituição da sociedade, e de que forma estas chamam o leitor a um papel de cúmplice a dar um veredito sobre os comportamentos ali encenados. |