Resumo |
No contexto brasileiro, os impactos da Covid-19 não se restringiram ao âmbito da saúde pública, tendo, assim, reflexos negativos nos aspectos econômicos, sociais e, principalmente, políticos. Desde o início da contaminação, a (in)ação do governo apresentou consequências que resultaram na perda de mais de 660 mil vidas, muitas evitáveis com uma gestão consciente e racional da pandemia. Nesse sentido, o Ministério da Saúde, órgão em evidência em crises sanitárias, viu-se instaurado em meio a uma crise de gestores: ao longo do surto de Covid-19, o comando do Ministério foi alterado por quatro vezes. Diante desse contexto, busca-se, nesta pesquisa, ainda em andamento, analisar discursivamente as estratégias mobilizadas em charges para a representação do ministro da saúde durante a pandemia no Brasil. Assim, para o corpus, foram selecionadas 30 charges, a partir de pesquisa na plataforma Google, com a busca “charge + nome do ministro da saúde”, publicadas em mídias on-line, de abril de 2020 até janeiro de 2022. Dentre essas, cerca de 5 charges referentes a cada período de comando, além de 6 que fazem referência aos períodos de troca e à situação do Ministério de maneira geral. Em consonância ao objetivo principal, busca-se: (i) descrever situacionalmente o gênero charge; (ii) evidenciar a situação comunicacional, com finalidade, propósito, dispositivo e visadas discursivas; (iii) verificar os sujeitos envolvidos na enunciação das charges; (iv) perscrutar as estratégias linguísticas, discursivas e semiológicas mobilizadas; (v) reconhecer as representações sociais dos gestores da Saúde; e (vi) discutir as relações interdiscursivas entre Discurso Midiático, Discurso Político e Discurso Humorístico. No que concerne ao arcabouço teórico-metodológico, utilizamos, primordialmente, a Teoria Semiolinguística (TS) de Patrick Charaudeau, considerando-se a sua pertinência e aplicabilidade em referência ao estudo. Ademais, são necessários referenciais relacionados ao gênero charge por uma perspectiva situacional, além de embasamento teórico relativo à questão da imagem com Joly (2007) e do humor, a partir de Vale (2009), ao considerarmos a charge como um gênero multimodal, com o emprego de construções sarcásticas e irônicas. Até o momento, entendemos a análise das charges como uma tarefa complexa que demanda a utilização de diferentes quadros da TS, como o do Ato de Linguagem e seus sujeitos (CHARAUDEAU, 2008) e respectiva adaptação (MELLO, 2004), relacionados à mise en scène humorística segundo Charaudeau (2006). |