Resumo |
O Estágio Interdisciplinar de Vivência da Zona da Mata (EIV-ZM) é um projeto de extensão da UFV que surge em 1996. Sua construção se pauta pelo movimento estudantil universitário e busca, a partir da experiência vivenciada no campo, aproximar e estreitar laços entre estudantes e atores da luta popular campesina. Através do contato entre diferentes realidades, o EIV-ZM busca promover um olhar mais sensível sobre a realidade do campo, permeando a compreensão das esferas social, econômica, cultural e política de comunidades de agricultores familiares sindicalizados ou organizados nos movimentos populares. O EIV-ZM constitui-se como processo de sensibilização e estímulo a criticidade dos estudantes diante da realidade camponesa, questionando uma formação acadêmica que vislumbra a restrita aquisição de conhecimentos científicos. Através da convivência com as famílias agricultoras, proporciona intensa reflexão e a construção de um compromisso social com as famílias camponesas na construção de um modelo de desenvolvimento com referência na agroecologia. O EIV possui um caráter de intercâmbio político e profissional entre a universidade e as organizações e Movimentos Sociais Populares do campo e se organiza em três fases, preparação, vivência e retomada, totalizando cerca de 22 dias. As duas primeiras fases acontecem no Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata – CTA-ZM. Já as vivências acontecem junto das famílias agricultoras parceiras do EIV na Zona da Mata mineira. O EIV possui três princípios basilares: a parceria entre o movimento estudantil, os movimentos sociais campesinos (especialmente o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST), o movimento agroecológico e o movimento sindical; a interdisciplinaridade, efetivada através do diálogo entre diferentes áreas do conhecimento científico, caminhando fortemente na direção da visibilização e valorização de saberes para além da ciência e seus processos de constituição e circulação, sobremaneira a educação popular; e a não intervenção que, partindo de uma perspectiva etnográfica, orienta os estagiários a experienciarem a realidade camponesa visando sua compreensão e construindo elementos para problematizar sua formação profissional. Tendo como referência a extensão enquanto prática dialógica e produtora de autonomia, reconhecendo assim os envolvidos como sujeitos e não como objetos aos quais se destinam as ações, através da vivência, o EIV possibilita aos estagiários a elaboração de novos projetos direcionados à realidade camponesa. Às famílias, o estágio promove a valorização do seu conhecimento e a aproximação com a universidade, desmistificando a ciência como forma única e/ou melhor de conhecer e passando a compreender a universidade como espaço público. O EIV representa um marco importante na construção de relações mais próximas, horizontais e humanas entre a universidade e o campo, reposicionando as relações entre universidade e sociedade. Agradecemos ao CTA-ZM e aos parceiros. |