Resumo |
Introdução: A Constituição Federal de 1988 institui a seguridade social como política pública, na tentativa de assegurar uma sociedade mais solidária, igualitária e justa a todos os cidadãos. As desigualdades sociais são compreendidas como uma construção individual e/ou coletiva que reflete o modo como se configuram as relações sociais. Pensar em uma atenção à saúde mais equitativa pressupõe o reconhecimento da desigualdade social presentes no país, e sua interferência no direito universal à saúde. Neste contexto, o primeiro passo dos que atuam no setor saúde, incluindo a enfermagem, deve ser o de reconhecer as desigualdades sociais, de modo a pensar e tecer estratégias para atuar efetivamente sobre elas. Objetivo: compreender as experiências de enfermeiros da Atenção Primária à Saúde no que tange à atuação sobre as desigualdades sociais e desenvolver competências neste profissional a fim de atuarem no enfrentamento em seu cotidiano profissional. Metodologia: Pesquisa qualitativa fundamentada na pesquisa-ação, na qual participaram seis enfermeiros da Atenção Primária à Saúde (APS) de um município de Minas Gerais. A coleta de dados da primeira etapa se deu através de um roteiro de entrevista contendo questões abertas, de julho a agosto de 2017 e a segunda etapa através de oficinas e grupo focal, de março a maio de 2018. Os dados foram analisados por meio da técnica de Análise de Conteúdo de Bardin. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEP/UFV) sob o parecer n. 2.058.819. Resultados: Evidenciou-se na primeira etapa que a atuação do enfermeiro diante das desigualdades sociais era marcada por uma experiência dotada de muitos desafios, os quais provocaram a emersão de sentimentos e processos de enfrentamento cabíveis à bagagem de conhecimentos, habilidades e atitudes que dispunham para atuar neste contexto. Na segunda etapa pôde-se construir com os participantes, competências para o enfrentamento das desigualdades sociais no território. Esta construção aconteceu por meio de oficinais, elaboradas a partir de metodologias ativas, possibilitando a reconfiguração para tal processo de enfrentamento. A formação de competências se deu fundamentada e interpretada, a partir de conhecimentos, habilidades e atitudes que as alicerçam, sob a ótica dos quatro pilares da educação estabelecidos pela UNESCO (conhecer, fazer, ser e conviver) e considerando a interface das mesmas com as previstas para o enfermeiro nas Diretrizes Curriculares Nacionais de Enfermagem que pôde reconhecer como arcabouço necessário para atuar assertivamente diante dessa realidade. Conclusão: o estudo permitiu identificar, por meio da pesquisa-ação, as competências construídas no enfermeiro da APS para atuar sobre as desigualdades sociais na saúde. Sinalizando assim a importância de fortalecer na formação do enfermeiro - graduação e pós-graduação - o desenvolvimento de competências para atuar sobre a temática, o que ainda se apresenta lacunar. |