Resumo |
A presença de estrangeiros na cidade de Viçosa, Minas Gerais, atraídos principalmente pelos convênios e parcerias estabelecidos com a Universidade Federal de Viçosa (UFV) em seu processo de internacionalização, tem produzido silenciosamente um movimento, provavelmente crescente, de inclusão de crianças e adolescentes estrangeiros nas escolas da cidade. Sabe-se que a migração tem fortes impactos no desenvolvimento da criança e na sua formação identitária e que, em linhas gerais, o sistema escolar brasileiro não tem políticas de acolhimento a crianças estrangeiras e seus familiares, carecendo de pesquisas que deem suporte a profissionais e familiares envolvidos no processo de ensino-aprendizagem. Assim, desenvolveu-se esta pesquisa com os objetivos de: identificar o perfil das crianças estrangeiras matriculadas em escolas de Viçosa; investigar como suas famílias lidam com a língua-cultura pátria; e analisar como a barreira linguística interfere na integração funcional e social dessas crianças. A pesquisa, de natureza qualitativa e com embasamento teórico na Linguística Aplicada, contou com consulta prévia às escolas, abordagem e entrevista aos pais que voluntariamente se manifestaram favoráveis à participação na pesquisa e posterior entrevista a profissionais que lidam diretamente com as crianças e adolescentes estrangeiros no ambiente escolar. Os resultados, ainda em estudo, apontam certo padrão no perfil sócio-econômico das famílias participantes e nas motivações para viverem aqui com seus filhos. Os relatos das famílias comprovam a existência de certo planejamento linguístico familiar, para manutenção da língua-cultura pátria, embora as decisões envolvidas nesse planejamento nem sempre sejam conscientes ou encontrem respaldo teórico-prático. Experiências relatadas pelos familiares demonstram, ainda, fragilidades do sistema escolar no acolhimento a crianças não-falantes de português, permeadas principalmente pela barreira linguística, que, aliada às consequências do deslocamento das crianças e de seus familiares, acabam reforçando diferenças culturais e provocando, em vários casos, dificuldades de interação e isolamento da criança e de seus familiares. Apesar das dificuldades envolvendo adaptação e socialização, são observados pelos pais preocupação e interesse dos profissionais da comunidade escolar em oferecer apoio às crianças, mesmo quando a estrutura escolar oferece limitações. Concluindo, existe uma demanda urgente por projetos de orientação e apoio à comunidade escolar – profissionais e familiares – no acolhimento de crianças e adolescentes estrangeiros. |