Resumo |
A cistite enfisematosa é uma afecção rara em cães, resultante de infecção bacteriana na vesícula urinária com consequente produção e acúmulo de gás na parede, lúmen e/ou ligamentos vesicais. Possuindo diversas causas ou associações patológicas, o diabete melito é referido como uma das comorbidades mais citadas. Os pacientes acometidos podem apresentar-se assintomáticos ou exibir hematúria, estrangúria, disúria e/ou polaciúria. O diagnóstico é realizado por meio de radiografia, ultrassonografia abdominal e tomografia computadorizada. Nesses casos recomenda-se realização de urocultura e antibiograma e aqui as bactérias usualmente encontradas são Escherichia coli, Enterococcus spp., Klebsiella pneumoniae, Proteus mirabilis, Actinomyces spp e Streptococcus canis. Objetiva-se relatar o caso de um cão macho, raça Pastor Branco Suíço de 10 anos, inteiro, com a queixa de hematúria recorrente. Ao exame hematológico evidenciou-se discreta anemia regenerativa e na urinálise, a proteinúria, hematúria e a intensa bacteriúria foram os principais achados. Ao exame ultrassonográfico constatou-se vesícula urinária parcialmente visualizada devido à grande quantidade de gás intraluminal e prostatomegalia. O exame radiográfico simples confirmou presença de gás intravesical localizado na parede da bexiga urinária. A avaliação clínica e laboratorial complementar não evidenciou nenhum indício de comorbidade associada ao quadro. O exame de urocultura isolou Klebsiella sp. sensível a vários fármacos: moxifloxacina, ciprofloxacina, amoxicilina com ácido clavulânico, ampicilina, aztronam, ceftriaxona, enrofloxacina, doxicilina, florfenicol, imipenem, levofloxacina, meropenem, norfloxacina e sulfa-trimetroprim. Dessa forma, instituiu-se tratamento com amoxicilina com ácido clavulânico, 23 mg/kg, a cada 12h, por 8 semanas. Após 15 dias, o paciente apresentou melhora quantitativa na produção de gás e novo cultivo da urina evidenciou a presença de Streptococcus canis, também sensível à amoxicilina com ácido clavulânico. A antibioticoterapia foi continuada por mais 8 semanas. Após este período, o paciente apresentou melhora clínica, não mais se constatou alterações na vesícula urinária nos exames de imagem e o paciente recebeu alta clínica. Acredita-se que pacientes que não apresentam fatores predisponentes ou comorbidades (urolitíase, neoplasias, divertículo urinário ou cistite crônica), a albumina urinária poderia agir como substrato para a multiplicação de patógenos produtores de gás podendo estar associado ou não à redução da resposta imunológica do hospedeiro por comprometimento vascular. Ressalta-se que o tratamento iniciado precocemente é importante para reduzir as graves complicações que podem vir associadas à essa doença, como pielonefrite enfisematosa, necrose e ruptura da bexiga e choque séptico. |