Resumo |
A ocorrência de ingestão de corpos estranhos é comum na rotina veterinária de cães e gatos, acometendo principalmente pacientes jovens, que ingerem objetos impactantes, perfurantes ou lineares, resultando em obstrução ou perfuração do trato gastrointestinal. Anorexia, disfagia, odinofagia, regurgitação, emese, dispneia, inquietação e letargia são sinais clínicos passíveis de serem observados. O diagnóstico é confirmado por ultrassonografia e radiografia abdominal. Objetiva-se relatar o caso de um cão, raça Blue Heller, um ano de idade, atendido no Hospital Veterinário da UFV, com histórico de ingestão de corpo estranho perfurante e linear – anzol de pesca com linha nylon, há 24 horas. Realizou-se exames hematológicos que evidenciaram trombocitopenia, aumento de ALT, GGT, hiperalbuminemia, hipoglobulinemia e hiperglicemia. Ao exame radiográfico, observou-se objeto metálico de 3,5cm x 1,5cm em região mesogástrica, mas não foi possível determinar localização correta em trato gastrointestinal. Optou-se por realizar endoscopia, porém o objeto não foi localizado em região gástrica e, o paciente foi encaminhado para procedimento cirúrgico emergencial. Realizou-se celiotomia exploratória por meio de incisão retro-umbilical e as alças intestinais foram exploradas. O objeto foi localizado em porção final de duodeno, sem evidências de perfuração ou plissamento de alça intestinal. Procedeu-se incisão na borda antimesentérica, nas camadas serosa, muscular, submucosa e mucosa, permitindo a remoção do anzol e da linha. A enterorrafia foi realizada com pontos simples interrompidos fio poliglecaprone 3-0, englobando camada serosa, muscular e submucosa. Procedeu-se lavagem das alças intestinais manipuladas durante o procedimento e omentalização da enterorrafia. Realizou-se oclusão da cavidade abdominal por meio de miorrafia, redução do subcutâneo e dermorrafia. Recomendou-se jejum líquido e sólido por 24 horas, seguidas de instituição de água e dieta de fácil digestão (pastosa) por 72 horas e reintrodução gradual de dieta sólida. Prescreveu-se tramadol meloxicam, dipirona, amoxicilina com ácido clavulânico e metronidazol. CE que produzem complicações graves ao paciente incluem os perfurantes como ossos, agulhas e anzóis, que resultam em perfuração gástrica ou intestinal, peritonite e sepse; CE impactantes como plástico, pedras, areia, tecidos e pêlos, que resultam em obstrução, comprometimento vascular, isquemia, necrose, ruptura, peritonite e sepse e; CE lineares como linhas, fios e cabelos, os quais uma extremidade se fixa em um local e o peristaltismo movimenta a extremidade livre, resultando em pregueamento das alças, lesão das camadas intestinais, ruptura, peritonite e sepse. Portanto, o rápido diagnóstico e instituição precoce do tratamento são fundamentais para a melhor recuperação e prognóstico do paciente. |