Resumo |
A criopreservação do sêmen é uma biotecnologia que assume papel importante na otimização da vida reprodutiva de animais geneticamente superiores, por possibilitar a conservação dos gametas masculinos por tempo indeterminado e facilitar a sua logística de transporte. Porém, a criopreservação é reconhecidamente nociva para a célula espermática por reduzir sua sobrevivência e seu potencial fertilizante. Dentre as alterações que causam a queda na qualidade espermática, podemos citar a produção de espécies reativas ao oxigênio (ROS), um processo natural resultante da atividade metabólica normal, que se torna prejudicial quando exacerbado, sendo o peróxido de hidrogênio considerado a ROS mais deletéria à célula espermática. Essa realidade, aliada à demanda comercial pelo uso da técnica, resultou em um aumento considerável no número de pesquisas voltadas à otimização dos procedimentos de criopreservação, que incluem modificações nas concentrações dos crioprotetores adicionados aos meios diluidores e variações na composição dos diluentes utilizados. Desse modo, objetivou-se com o presente estudo comparar o efeito do glicerol e da dimetilformamida, associados ou não, sobre a produção de peróxido de hidrogênio intracelular na criopreservação do sêmen equino. Para tanto, foram coletados cinco ejaculados de quatro garanhões da raça Mangalarga Marchador aprovados em exame andrológico. Para o congelamento dos ejaculados, foi utilizado o meio comercial Botu-Crio® sem crioprotetor, constituindo esse o meio base para os tratamentos: glicerol 5% (GLIC); dimetilformamida 5% (DMFA); glicerol 2% e dimetilformamida 3% (DG); e Botu-Crio® comercial (BC - grupo controle). O experimento foi realizado em Viçosa-MG, em delineamento inteiramente casualizado, no esquema fatorial 4X4. As amostras foram descongeladas e avaliadas por meio da citometria de fluxo quanto à produção de peróxido de hidrogênio intracelular mediante uso da sonda DCFDA/IP associada à sonda iodeto de propídeo; além da viabilidade in vitro mediante avaliação da motilidade e vigor espermático em microscopia óptica de luz. Foi observada uma menor porcentagem de células viáveis com alta produção de peróxido de hidrogênio nas amostras referentes ao tratamento GLIC (15,3 %), quando comparados aos demais tratamentos (DG, BC e DMFA (18,5, 18,3 E 23,3%, respectivamente)), o que pode estar relacionado à menor taxa metabólica desses espermatozoides e consequentemente menor capacidade de produção de ROS. Além disso, o glicerol tem como propriedade a eliminação de radicais hidroxila, o que poderia explicar os maiores percentuais relativos dos tratamentos com baixas concentrações ou ausência desse composto. A toxicidade do glicerol em altas concentrações e a relação entre metabolismo e geração endógena de ROS corrobora com outros estudos, que evidenciam a maior produção de ROS nas amostras com melhores motilidades pós-descongelamento e menor viabilidade espermática em tratamentos contendo níveis elevados de glicerol. |