Resumo |
Corpos trans rompem o binarismo de gênero, tensionam em maior ou menor grau as normas regulatórias cis-heteronormativas e hegemônicas consolidadas histórica e culturalmente na sociedade. Por conseguinte, estudantes trans podem experienciar, com maior frequência, situações de violência simbólica na escola (CRUZ, 2011; CELLINI&FRANCO, 2016). Sob essa ótica, consideramos que as práticas opressoras, sejam elas promovidas por outrxs estudantes, sejam por profissionais da educação, afetam alguns estudantes trans e interferem em suas vidas social e escolar. Em meio a essa eminente problematização, pretendemos apresentar uma parte das análises da pesquisa “Corpos trans em práticas socioescolares: uma análise crítico-discursiva de narrativas de vida” que vem sendo desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Letras (PPG/LET) da Universidade Federal de Viçosa (UFV), junto ao Grupo AFECTO (Abordagens faircloughianas para estudos do corpo/discurso textualmente orientados). Trata-se de uma pesquisa de cunho etnográfico vinculada à Análise do Discurso Crítica de Norman Fairclough (2001 [1992]; 1999; 2003), arcabouço teórico-metodológico de natureza transdisciplinar. Assim, devido a isso, nossas análises são articuladas aos Estudos de Gênero, principalmente àqueles voltados para a perspectiva queer de Judith Butler (1990, 1993, 1999), Louro (2000, 2004), Miskolci (2012), Connell (2016), Preciado (2017) e Bento (2017). Ademais, a partir das narrativas geradas por meio de entrevistas semiestruturadas realizadas em duas escolas públicas de Viçosa-MG, identificamos que estudantes transhomens vinculados a essas instituições são constrangidos em alguns momentos e, em outros, têm a identidade de gênero reconhecida e legitimada por colegas e por professorxs, supervisoras e pela direção escolar. À vista disso, notamos uma pluralidade de masculinidades em frequente negociação de suas identidades – afinal, enquanto alguns transhomens identificam-se como marginais e estranhos no espaço escolar, um deles experiencia a normalidade de uma masculinidade mais empoderada devido à sua performance de gênero e ao grupo de colegas do qual participa. |