Resumo |
O presente artigo tem o objetivo de contribuir com os estudos sobre o fenômeno das chamadas fake news – expressão que já era usada desde o final do século XIX e que se popularizou graças ao presidente norte-americano Donald Trump –, oferecendo uma reflexão sobre a utilização de informações falsas como estratégia eleitoral nas eleições presidenciais brasileiras ocorridas em 2018. Observamos as mídias ao longo de 58 dias durante o 1º e 2º turnos das eleições para selecionarmos extratos de notícias nos principais portais de jornalismo da internet na busca de identificar de que maneira o fenômeno iria se desenhar ao longo do processo eleitoral. Identificamos notícias sobre dezenas de fake news direcionadas à então candidata à vice-presidência Manuela D’Ávila (PCdoB). Diante da eclosão do fenômeno direcionado à vice de Fernando Haddad (PT), iniciamos a seleção dos extratos e a análise dos signos envolvidos na construção discursiva das fake news. Utilizamos a Análise de Conteúdo para identificar os quadros de sentidos convocados por elas. Selecionamos sete fake news sobre Manuela que viralizaram nas redes sociais e em grupos de WhatsApp. Por meio da análise, constatamos que as fake news assumiram lugar de destaque durante o período eleitoral, tendo sido amplamente utilizadas pelo candidato da extrema direita Jair Messias Bolsonaro (PSL) e seus apoiadores. Um dos principais alvos foi Manuela D’Ávila, que teve sua imagem depreciada frente ao povo brasileiro, sobretudo ao público cristão. Apelou-se a montagens, à manipulação de suas falas e a falsas declarações para atribuir à candidata comunista condutas moralmente reprováveis com o propósito de levar os brasileiros a acreditarem que Manuela D’Ávila seria desqualificada para ocupar o cargo de vice-presidente do país. Como afirmou o pesquisador Wilson Gomes, professor titular da UFBA, sobre as fake news: "À raiz de tudo está o fato de que uma parcela cada vez maior de pessoas no mundo acredita surpreendentemente em um monte de histórias malucas, usando-as para tomar decisões políticas (escolhas eleitorais, apoios a políticas públicas) ou para fomentar a guerrilha política permanente entre lados e facções" (GOMES, 2019, online). As fake news alcançam o status de estratégia político-ideológica, na medida em que se envolvem como ferramenta de um movimento para desacreditar as instituições tradicionais que lidam com o conhecimento. No lugar dos especialistas, os não-especialistas do senso comum: blogueiros conservadores ou os digital influencers. Na polarização, a população brasileira se vê entre um “Nós e Eles” sempre em competição. O critério para a verdade seria “aquilo que é bom para nós e ruim para eles”, ou seja, vale o que é bom para a tribo dos "fakenewsistas". |