Resumo |
A doença do trato urinário inferior dos felinos (DTUIF) é uma condição comum e caracteriza-se por distúrbios que afetam a bexiga e/ou uretra dos gatos. As causas de DTUIF incluem são diversas, como urolitíase, defeitos anatômicos e distúrbios comportamentais. Os sinais clínicos são inespecíficos e incluem estrangúria, disúria, hematúria, polaciúria e periúria, com ou sem obstrução uretral. A cistite intersticial felina (CIF) é a causa mais comum da DTUIF, com ou sem obstrução. A cistite pseudomembranosa felina (CPF) é uma condição incomum de DTUIF obstrutiva definida como a presença de camadas felpudas intravesicais de material necrótico cobrindo a mucosa hemorrágica e ulcerada da bexiga. Objetiva-se demonstrar os parâmetros de uma ocorrência rara na medicina felina. Relata-se o caso de um felino macho, pelo curto brasileiro de um ano de idade e 3 kg de peso corporal com suspeita de obstrução uretral que foi atendido no HVT/UFV. O paciente apresentava histórico de apatia, prostração e anúria há quatro dias. Ao exame físico, foi observado desidratação de 9%, bradicardia, mucosas perláceas, hipotermia e distensão vesical grave. Num primeiro momento, foi realizada a administração de insulina regular 0,3 UI/kg por via subcutânea devido à possível bradicardia secundária à hipercalemia. Os exames laboratoriais revelaram anemia normocítica normocrômica, neutrofilia com desvio a esquerda regenerativo, hiperproteinemia, azotemia (uréia: 235 mg/dL e creatinina: 4,21 mg/dL) e hipercolesterolemia; além de isostenúria, proteinúria, hematúria e glicosúria observadas na urinálise. A concentração sérica de potássio mostrou-se elevada conforme suspeitado (10,9 mmol/L) e de sódio discretamente baixa (140 mmol/L). A radiografia simples não foi digna de nota, exceto pela distensão vesical intensa. A ultrassonografia abdominal revelou espessamento difuso da parede da bexiga (0,71 cm) e presença de septos hiperecóicos incomuns, atravessando e dividindo o lúmen da bexiga em compartimentos, achados consistentes com o diagnóstico de CPF. A desobstrução uretral cirúrgica foi bem sucedida. O animal foi internado para estabilização, submetido à fluidoterapia, administração de butorfanol (0,2mg/kg) para controle de dor e sulfametoxazol + trimetoprim (15mg/kg), além de ser instituído cuidados de enfermagem como a lavagem vesical a cada duas horas. No dia seguinte houve piora do quadro clínico e o paciente apresentou-se com intensamente prostrado, hipotérmico, bradipnéico e ictérico, sendo a eutanásia solicitada pelos tutores. O presente relato evidencia que a CPF deve ser incluída como diagnóstico diferencial em gatos que apresentem sinais clínicos de DTUIF, principalmente se houver obstrução do fluxo de saída da urina. É uma condição que pode ser facilmente diagnosticada pela ultrassonografia e, apesar incomum, seu diagnóstico é determinante na correta conduta terapêutica. Portanto, este exame deve ser incluído como protocolo no diagnóstico de DTUIF. |