Resumo |
O alumínio (Al), metal mais abundante da crosta terrestre, em solos ácidos (pH<5), como os do cerrado, é solubilizado (Al3+) tornando-se disponível para as plantas. O Al3+ é tóxico, à maioria das plantas cultivadas, por causar danos às raízes, limitando a absorção de nutrientes e reduzindo a produtividade agrícola. Apesar da fitotoxidade do Al3+ e da sensibilidade de muitas espécies, as plantas nativas, como as que ocorrem no cerrado, possuem mecanismos adaptativos que as permitem sobreviver na presença do Al. Dentre essas, destaca-se a espécie herbácea Borreria latifolia (Rubiaceae) por hiperacumular o metal sem prejuízos ao seu metabolismo. O estudo das respostas morfofisiológicas dessa espécie ao Al pode auxiliar na compreensão dos mecanismos de resistência das plantas nativas. Avaliamos os efeitos da exclusão do Al3+ em B. latifolia, cultivada em hidroponia, mediante análise de aspetos morfológicos e bioquímicos, como os teores de eletrólitos extravasados (EE) e os de clorofilas. Para isso, indivíduos coletados no cerrado da Flona de Paraopeba-MG foram cultivados em solução nutritiva de Clark (½ força), pH 4,5, sem Al. Após 40 dias, metade das plantas (n=5) foi submetida a 500 µM de Al, na forma de AlCl3. O experimento inteiramente casualizado foi conduzido em casa de vegetação e durou 57 dias. As alterações morfológicas foram registradas em fotografias, o teor de EE foi obtido pela condutividade elétrica de discos foliares em água e as concentrações de Clorofilas a (Cla) e b (Clb) foram determinadas em espectrômetro a 653 nm e 666 nm. Os dados foram submetidos a ANOVA e as médias comparadas pelo teste de T de Student (p<0,05). Após 21 dias de cultivo sem Al, B. latifolia apresentou cloroses apicais e marginais nos primórdios foliares, progredindo para a base das folhas, que evoluíram para necroses. Esses sintomas ocorreram também nas folhas expandidas e o crescimento da parte aérea foi cessado. A raiz adquiriu uma coloração mais escura, tornando-se amarronzada e enegrecida, apodrecendo ao final do experimento nesse tratamento. Cinco dias após o Al ser fornecido, ocorreu a reativação do crescimento e produção de novos caules e folhas, aparentemente saudáveis, porém houve perda da dominância apical nas plantas. A disponibilização do Al reduziu em 5,6 vezes o teor de EE nas folhas das plantas desse tratamento (9,25%) em relação ao controle (51,56%), demonstrando que a falta de Al leva ao estresse oxidativo nessa espécie. Houve um incremento de 161% e 163% na concentração da Cla (5,05 mg g-1 de matéria seca) e da Clb (2,45 mg g-1 de matéria seca), respectivamente, no tratamento com Al em relação controle (3,14 mg de Cla g-1 de matéria seca e 1,50 mg de Clb g-1 de matéria seca). As evidências nos permitem supor que o Al é um elemento essencial para o desenvolvimento de B. latifolia e seu papel no metabolismo dessa espécie está sendo investigado. |