Resumo |
O Estado de Minas Gerais, um dos mais católicos do país, é nacionalmente reconhecido pelas tradicionais festas dos santos e, no que tange à formação da Zona da Mata mineira, alguns historiadores apontam que seria a partir de capelas dedicadas ao culto dos santos que vários povoados teriam se originado. Este trabalho apresenta resultados de uma pesquisa cujo objetivo principal foi elaborar um mapeamento das devoções na Zona da Mata Mineira, tentando identificar os santos e as santas mais invocados nas paróquias dessa região, bem como o momento em que essas devoções foram estabelecidas e como se dava a definição da escolha dos patronos das igrejas. Foram consultadas as cidades das microrregiões de Cataguases, Viçosa, Ubá, Muriaé e Manhuaçu, de diversas Arquidioceses e Dioceses. Desenvolvida metodologicamente no âmbito das disciplinas de História, Sociologia e Antropologia da religião, a pesquisa foi realizada a partir de fontes como textos oficias, tanto das paróquias, dioceses e arquidioceses, quanto das prefeituras municipais, além da leitura e da interpretação de textos historiográficos, dicionários específicos, entre outras. Elaborou-se uma tabela com dados quantitativos e informações sobre o ano e o contexto de fundação das cidades, os santos e as santas mais nomeados como padroeiros, o dia em que o comemoram e o número de paróquias existentes. Como resultado, observou-se a preponderância de santidades masculinas na invocação das paróquias e, entre as santas mulheres, destacam-se as variações nominais de Nossa Senhora. Verificou-se, ainda, que a escolha dessas invocações se relacionava com a indicação ou exigência do doador da terra onde construiu-se a capela primitiva do povoado, o que mostra como os fatos sociais se articulam com a religião. Foi possível também observar que classe social se conjuga com o culto aos santos, já que nas cidades com mais de uma paróquia percebeu-se a devoção a santos mais ou menos cultuados por pessoas da elite e por gente das camadas mais populares, como é o caso de Nossa Senhora do Rosário. A pesquisa ainda deixou evidente a influência atual do culto desses santos, na medida em que o dia do padroeiro é sempre feriado municipal e em grande parte abriga procissões, missas especiais e festas de celebração envolvendo parte significativa da população. O projeto demostra que, além de questões religiosas, a devoção aos santos e santas é uma relação política e de memória cultural, que influencia e recebe influência da sociedade em que é cultuada, configurando-se, assim, como um mecanismo importante para a análise da formação histórica e cultural dos municípios mineiros, no sentido de conferir sentimento de identidade religiosa aos cristãos da Zona da Mata. |