Resumo |
A linguagem é uma das principais formas de mediação na sociedade, possibilitando a interação e materializando as formas como o sujeito se identifica e representa o mundo que o rodeia. Isso leva a pensá-la enquanto discurso o qual, além de ser um meio de ação social, também é um fator constitutivo, como propôs Michel Foucault (1969), ou seja, o discurso constitui sujeitos, objetos e conceitos. Dessa maneira, é impossível negar o papel da linguagem como construtora dos sistemas de conhecimento e crença, das identidades e das relações sociais, porque os sentidos que emergem das práticas discursivas constroem representações da realidade segundo as condições estabelecidas no processo enunciativo. Tomamos como referencial o aparato teórico da Análise Crítica do Discurso, Fairclough (1992, 1999, 2003) segundo a qual os textos tornam-se material de pesquisa, pois a partir dele é possível delimitar agentes sociais, os modos pelos quais eles agem na sociedade e o modo eles são representados nos discurso. A partir dessa perspectiva teórica propomos investigar como foram representados em textos da mídia os moradores do Edifício Wilton Paes de Almeida. O desabamento do referido edifício foi objeto de uma grande cobertura midiática e colocou em discussão a questão da moradia e das pessoas em situação de rua, tomaremos, assim, como objeto analítico um conjunto de reportagens referentes a esse fato veiculadas em diferentes periódicos, a saber, o jornal El País, a revista IstoÉ e no programa Fantástico da rede Globo. Seguindo proposta metodológica de Resende e Ramalho (2011), foi feita uma análise dos significados representacionais e a abordagem dos textos partiu inicialmente da determinação das estruturas linguísticas relevantes para a representação dos moradores do prédio e, em seguida, contextualizaram-se esses usos linguísticos no seu contexto de produção a fim de se pensar como os textos afetam ou refletem as práticas sociais que posicionam esses agentes socialmente. A seleção de vocabulário constrói uma representação dos moradores do prédio condicionada pelo lugar de fala dos periódicos articulando, assim, conhecimentos e crenças na representação desses atores sociais. |