Resumo |
Formigas cortadeiras cultivam o fungo Leucoagaricus gongylophorus, utilizando-o como alimento e, em contrapartida, elas fornecem ao fungo nutrientes, proteção e dispersão. A relação dessas formigas com microrganismos, contudo não se restringe ao fungo mutualista, pois dentro de seus ninhos pode ser encontrada uma diversidade de outros fungos, incluindo parasitas. Dentre esses fungos, destacam-se os pertencentes aos gêneros Escovopsioides e Escovopsis, sendo que esse último é considerado parasita especializado do fungo mutualista das formigas por obter nutrientes do seu micélio vegetativo (Currie et al., 1999).Desde a publicação de Currie e colaboradores em 1999, Escovopsis tem sido considerado um parasita altamente virulento para seu hospedeiro. No entanto, esse parasita é frequentemente encontrado em colônias saudáveis, que permanecem forrageando e crescendo normalmente. Isto pode indicar que Escovopsis não representa uma ameaça às colônias como tem sido relatado na literatura. Em relação à Escovopsioides, este gênero de fungo foi recentemente descrito e pouco se sabe sobre sua biologia. Haifig et al., 2016 levantaram indícios de que este fungo também pode ser um parasita de L. gongylophorus. Se considerarmos uma colônia de formigas cortadeiras como um superorganismo, os experimentos que avaliam a virulência de Escovopsis poderiam corresponder melhor à realidade se abrangesse o superorganismo como um todo (Augustin et al., 2011). Sendo assim, este trabalho tem como objetivo estudar a virulência e o impacto de Escovopsis e Escovopioides em colônias de formigas cortadeiras. Para isto, expomos colônias, subcolônias (colônia sem rainha, contendo somente operárias e jardim de fungo) e jardim de fungo sem formigas a Escovopsioides e Escovopsis, individualmente. Nossa hipótese é que esses fungos afetam de modo diferente as colônias dependendo do nível de complexidade e distúrbio em que elas se encontram. Os resultados demonstraram que apesar da exposição das colônias de formigas cortadeiras a uma alta concentração de esporos dos fungos parasitas, essas não sofreram um grande impacto negativo. Desse modo, todas as colônias permaneceram vivas e saudáveis. Entretanto, 11 das 12 subcolônias morreram o que pode estar relacionado ao fato de já estarem debilitadas por não apresentarem rainha. De modo semelhante, jardins de fungos sem as operárias também sofreram um grande impacto negativo, e morreram após 15 dias do início do experimento. Com isso, nosso estudo demonstra que, de modo geral, colônias expostas a E moelleri e Escovopsioides sp., sofrem um menor impacto negativo em relação as subcolônias e aos jardins de fungos sem formigas. Isto ressalta importância de realizarmos estudos sobre a virulência desses fungos em colônias com um todo, e não somente utilizando partes desses superorganismos. |