Resumo |
A rápida dispersão do Zika virus (ZIKV) pela América no ano de 2015 mostrou o relevante impacto que as mudanças climáticas podem ter na emergência de epidemias. Naquele ano, o El Niño promoveu condições climáticas excepcionais durante o inverno, contribuindo para a origem de uma novo regime de transmissão durante uma temporada de transmissão tipicamente baixa. A temperatura é conhecida por ter um papel na resistência de mosquitos à infecções, e em diversos sistemas foi verificado um fenótipo resistente em baixas temperaturas. No entanto, os mecanismos moleculares que limitam o estabelecimento do patógeno no vetor são desconhecidos. Estudos no transcriptoma de mosquitos Ae. aegypti revelaram a expressão tardia de genes envolvidos na digestão de sangue em mosquitos expostos ao frio quando comparado a temperaturas mais elevadas. Nesse contexto, o presente trabalho objetivou investigar os mecanismos desencadeados pelo frio que confere resistência a mosquitos Ae. aegypti por meio da validação de resultados previamente obtidos pelo grupo. Ovos de Ae. aegypti foram eclodidos em água declorada. Adultos emergentes foram alimentados com solução de sacarose 10% (p/v) e mantidos em gaiolas sob condições controladas de temperatura, umidade e fotoperíodo (25 ±2°C, 60 ±2% e 12:12 h). Inicialmente foram conduzidos experimentos para a avaliação das taxas de alimentação em diferentes temperaturas. Para isso, 30 fêmeas foram dispostas em seis gaiolas e mantidas a 20, 28 e 36°C com privação de alimento por 30 minutos. Em seguida uma solução de sacarose 10% (p/v) acrescida de corante (FD&C Blue No.1) 0,5% (p/v) foi fornecida durante 10 minutos. Mosquitos foram homogeneizados em 400 µL de tampão fosfato (pH 7,4) e centrifugado (10.000 rpm) por 5 minutos. A absorbância a 625 nm foi usada para o cálculo do volume ingerido. Concomitantemente, 40 fêmeas foram dispostas em 3 gaiolas mantidas a 28°C sem alimentação por 24 hs. O repasto de sangue deu-se por 30 minutos em camundongos anestesiados. Intestinos de 5 fêmeas foram dissecados e homogeneizados em 100 µL de tampão em 24, 36 e 48 hs após repasto. Bradford foi utilizado para a quantificação proteica. Os ensaios revelaram que as taxas de alimentação foram significativamente distintas (p < 0,001) a 20 e 36°C, havendo maior ingestão nas maiores temperaturas. Quando foi fornecida uma refeição de sangue aos mosquitos seguida da exposição a diferentes temperaturas, foi observado níveis significativos (p < 0,001) de proteínas em intestinos de mosquitos alojados a 20°C por 24 hs, enquanto que nas demais temperaturas não foram detectados níveis proteicos nesse tempo. Estes resultados mostram o efeito da temperatura na modulação do metabolismo de mosquitos que parece ser o primeiro nível de uma cascata que acarreta na montagem de uma resposta imune efetiva. Experimentos estão sendo executados para investigar se os níveis de espécies de oxigênio reativas e a carga bacteriana no intestino são afetados pela variação da temperatura. |