Resumo |
Salmonella é uma bactéria Gram-negativa conhecida mundialmente pela capacidade de causar gastroenterite e febre entérica. Existem evidências de que esse patógeno regula a patogenicidade pelo quorum sensing (QS), um mecanismo de comunicação célula-célula, que modula a expressão gênica em resposta a mudanças na densidade populacional. Em Salmonella, o QS pode ser mediado por três tipos de autoindutores, AI-1, AI-2 e AI-3. O sistema mediado pelo AI-1 é incompleto, devido à ausência da proteína sintase, produtora da molécula sinal, acil homoserina lactona (AHL). No entanto, Salmonella é capaz de reconhecer as AHLs produzidas por outras bactérias e modular sua expressão gênica, aumentando a expressão de fatores de virulência, bem como de resistência. Portanto, o mecanismo de QS pode contribuir para a resistência de Salmonella a diferentes estresses, como o ácido e a peptídeos catiônicos, como a nisina. O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito do QS na resistência de Salmonella Enteritidis PT4 578 ao estresse ácido e à atividade inibitória de nisina. A bactéria foi cultivada em meio TSB anaeróbico com pH 4,5 acrescido de 50 nM de AHL e 50 µM de nisina, com incubação à 37 °C. Os controles consistiram de meio de cultura contendo apenas nisina e nisina + 50 µM de acetonitrila. O crescimento bacteriano foi acompanhado em alíquotas retiradas nos intervalos de 0, 1, 2, 4, 6 e 7 horas de incubação, utilizando a técnica de plaqueamento por microgotas e contagem de colônias após 7 horas de incubação. A análise de extravasamento de potássio foi realizada em fotômetro de chama nos tempos de 2 e 7 horas. Os resultados obtidos mostraram que células de Salmonella tratadas com AHL sobreviveram mais em meio ácido do que aquelas não tratadas, ou seja, a AHL tornou Salmonella mais resistente ao estresse ácido. Quando nisina foi adicionada ao meio de cultura, as células tratadas com AHL também apresentaram maior sobrevivência comparadas às células não tratadas com AHL. Dessa forma, é possível inferir que a AHL tornou as células mais resistentes, não só ao estresse ácido, como também, à ação de nisina. Este comportamento foi confirmado pelos resultados da análise de potássio extracelular, pois a células tratadas com AHL e nisina apresentaram menor extravasamento de potássio em relação às células tratadas somente com nisina. Esses resultados contribuem para melhor compreensão da relação entre o QS e os mecanismos de resistência que são importantes fatores de virulência para Salmonella. |